Durante o verão apercebi-me que no mundo maravilhoso das relações humanas não há ninguém que tenha direito à última palavra
Durante o verão apercebi-me que no mundo maravilhoso das relações humanas não há ninguém que tenha direito à última palavraapesar de gostarmos muito de algumas pessoas, pela simpatia ou pela amizade que nos une a elas, o outro permanece sempre um mistério por conhecer. Basta ter a oportunidade de passar apenas uns dias de convívio junto das pessoas de quem gostamos. Rapidamente nos apercebemos que as costumadas horas de café, de trabalho ou de jantares não são suficientes para revelar tanto as virtudes como as poucas limitações que cada um de nós leva consigo. Nunca pensei que ele era assim, faça como quiser, não acredito, como é possível, são algumas expressões ou pensamentos que nos assaltam, quando damos conta que a pessoa que admiramos começa a revelar-se diferente. Cabeça quente, coração frioQuando, de repente, nos encontramos no meio de opiniões desencontradas é incrível como a nossa cabeça começa a acelerar e a tirar conclusões pouco fundamentadas. a nossa fantasia e o sentimento de raiva, que brotam do nosso eu profundo, invadem-nos e acabamos por alimentar o nosso modo de pensar com juízos temerários sobre o outro. É surpreendente como um grande amigo pode tornar-se, na nossa cabeça, de um momento para o outro, um perfeito desconhecido. Uma cabeça quente pela não aceitação de que o outro é diferente, no seu modo de pensar e de agir, consegue definitivamente arrefecer qualquer coração. a amizade quando é verdadeira deita raízes no coração e permite-nos reconhecer o amigo a partir de um simples olhar. Pelo contrário, um coração endurecido pelo frio da pura razão impele-nos a desviar o olhar, tornando impossível identificar o brilho dos olhos da pessoa a quem amamos. Grande artimanha de uma cabeça agitada pela pura fantasia, onde o real se torna irreal e vice-versa. Cabeça fria, coração quenteQuem está disponível a aventurar-se na arte de escutar o outro, necessita de uma cabeça fria, ou seja, livre de preconceitos mórbidos e gélidos, livre de juízos com pouco ou nenhum sentido, acelerados e esquentados. a beleza do caminho da maturidade humana é descobrir, aceitar e amar o outro como ele é na realidade e não como eu imagino que é ou deveria ser. Faço minhas as palavras do célebre Fernando Pessoa quando disse: Quanto mais diferente de mim alguém é, mais real me parece porque menos depende da minha subjetividade. O Principezinho de Saint-Exupéry ensina-nos que só se vê com o coração. Um coração aquecido pela alegria e a dor que provoca o verdadeiro amor. aceitar o outro com virtudes e defeitos não é tarefa fácil e muitas vezes dói. Mas é importante mergulharmos nesta aventura para ultrapassar o infantilismo das nossas relações. É importante não deixar arrefecer o coração para continuarmos a ver no outro o brilho dos olhos que refletem o verdadeiro amor e a verdadeira amizade. Ver e ouvir são as únicas coisas nobres que a vida contém. (Fernando Pessoa)