é uma simples historieta, mas que para mim continua a ser significativa e instrutiva. Sempre me contive de a narrar porque tem o sabor do inverosí­mil. Mas é verdadeira. Uma história de crianças que nos dão uma lição
é uma simples historieta, mas que para mim continua a ser significativa e instrutiva. Sempre me contive de a narrar porque tem o sabor do inverosí­mil. Mas é verdadeira. Uma história de crianças que nos dão uma liçãoNo início de 2006, encontrava-me temporariamente em Heka (Tanzânia), uma missão numa zona atingida pela seca e pela fome que dela deriva. Também naquela estação a chuva não deu sinal de si. a gente recorreu a certas ervas e raízes, que só costuma comer nos tempos mais críticos. a fome era reconhecível nos rostos desfigurados e nos corpos emagrecidos. a missão, fazendo-o chegar de muito longe e a preços exorbitantes, tinha organizado uma distribuição de milho para os idosos e para os pobres. Mas era uma gota no oceano! Na quarta-feira da semana santa fui visitar o jardim infantil de Sassilo, levando comigo alguns biscoitos: uma pequena prenda da Páscoa. E comecei a distribuí-los, a modo de brincadeira, comentando que não sabia se chegavam para todos. Chego a uma menina que me diz: – Primeiro para a Upendo! – Porquê primeiro para a Upendo? – Não vês como está magrinha? Ela é mais pobre do que eu! – Onde é que ela está? Levanta-se, agarra-me pela mão e acompanha-me até à Upendo. Tira-me os biscoitos da mão e oferece-os a ela, dá-lhe um abraço e corre a sentar-se no seu lugar. Eu continuo a volta pelas crianças, regresso àquela que fez a oferta digo-lhe: – agora já não tenho para ti. – Não importa. Eu já comi os biscoitos. – Como é que já os comeste? – a Upendo comeu também por mim. Finjo procurar um outro pacote. Encontro-o e ofereço-lho. Olha para mim como se tivesse feito magia ou um milagre. Os seus olhos são dardos que me ferem.como dois diamantes brilhantes. E deixam cair lágrimas abundantes. Todas as crianças, que antes gritavam, olham para ela em silêncio. Fico comovido.com um fio de voz diz: asante sana – Muito obrigado! – Como é que te chamas? – Huruma! Huruma! Quer dizer: misericórdia. Huruma não sabe que viveu biblicamente o que o seu nome significa. Teve misericórdia de quem tinha mais fome do que ela. Repetiu o gesto de Jesus: Viu uma grande multidão e sentiu compaixão por ela (Mt 14, 14). Multiplica para eles os cinco pães e os dois peixes. O pouco torna-se muito nas mãos de Jesus. Mas não só nas suas mãos! Nas mãos e no coração de todos. Estou ainda a ver a Huruma a levantar-se, a oferecer, a abraçar Não deu só biscoitos. Deu compaixão e amor. Ecoa ainda dentro de mim o seu asante sana. Huruma, obrigado por me teres ensinado a solidariedade e a partilha. Por me teres testemunhado que a Páscoa verdadeira não é a litúrgica, por mais bela e alegre que seja, mas é a Páscoa da vida. Da vida oferecida, cujo símbolo é o lava-pés e cujo sacramento é a Eucaristia. Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim (Jo 13, 1).