O perdão e a reconciliação estão ao alcance de todos. Mas nem sempre é fácil colocá-los em prática. as Escolas de Perdão e Reconciliação, que os Missionários da Consolata pretendem criar em Portugal, podem dar uma ajuda
O perdão e a reconciliação estão ao alcance de todos. Mas nem sempre é fácil colocá-los em prática. as Escolas de Perdão e Reconciliação, que os Missionários da Consolata pretendem criar em Portugal, podem dar uma ajudaO projeto nasceu há 12 anos na Colômbia e já conquistou a américa Latina. ao todo, são mais de 45 mil as pessoas que aderiram às Escolas de Perdão e Reconciliação (ESPERE), um projeto de Leonel Narváez, missionário da Consolata, que lhe valeu o Prémio UNESCO para a Paz, em 2006. agora, chega a vez de Portugal servir de porta de entrada e de inspiração para a Europa, para a implementação desta ideia, destinada a ajudar a superar a raiva, os rancores e os desejos de vingança, numa sociedade cada vez mais afetada pela violência. Numa primeira fase, o projeto assenta num curso de 80 horas de trabalho em grupo. Uma parte da carga horária é destinada a desenvolver o tema do perdão, a outra da reconciliação. O perdão é um exercício individual, de limpeza pessoal, de estética, que só o próprio pode fazer. É um exercício de transformação narrativa, em que as pessoas passam da raiva e do desejo de vingança, desse caos, para a compaixão e bondade. É um exercício de recomposição afetiva e emocional, explica o sacerdote. Já a reconciliação é mais difícil porque obriga ao encontro entre agressor e ofendido. No fundo, tem como objetivo restaurar a confiança entre os dois, o que nem sempre é fácil, quando se trata, por exemplo de uma infidelidade conjugal, de uma violação ou de um crime de sangue. Mas é possível e Leonel Narváez tem inúmeros casos que o comprovam ao longo dos últimos 12 anos. Situações em que as vítimas passaram a ser vitoriosas, pois o perdão e a reconciliação não é para todos. É para heróis, sublinha o missionário. Sendo um dos mediadores nas negociações entre o governo colombiano e as Forças armadas Revolucionárias da Colômbia (FaRC), Narváez dá o exemplo do que se está a passar no seu país natal, onde muitas comunidades estão a dar uma autêntica lição de reconciliação, ao acolherem e ajudarem os ex-guerrilheiros a repararem as faltas que cometeram, num exercício de solidariedade enorme. São estes ensinamentos que espera venham a frutificar em Portugal e na Europa, tendo em conta o atual momento de crise e de tensão social. Um pobre com raiva é duas vezes pobre. O convite que faço à Europa, que está nesta tragédia financeira, é que não pode criar raiva sobre a pobreza, mas tem que criar saídas otimistas e solidárias para superar a pobreza e o desastre económico, disse, em entrevista à Fátima Missionária. Leonel Narváez esteve segunda-feira em Águas Santas, no Porto, e vai estar esta terça-feira na Casa Provincial dos Missionários da Consolata, em Lisboa, a partir das 18h30, para explanar as suas ideias, numa conferência sobre o tema a Cultura Política de Perdão e Reconciliação. O sacerdote é formado em filosofia, teologia e sociologia.