Portugal sofre a crise mais séria da sua economia moderna. a razão está num desequilí­brio crescente de quase 15 anos
Portugal sofre a crise mais séria da sua economia moderna. a razão está num desequilí­brio crescente de quase 15 anosEnquanto as recessões anteriores tinham sido efeito de perturbações fortes e súbitas (choques do petróleo, revolução de 1974, etc. ), desta vez enfrentamos um desajustamento estrutural que durou muito tempo. Esse desfasamento pode resumir-se num elemento: o acesso a crédito barato. Desde o início da década de 1990, com a entrada no processo de construção do euro, Portugal foi aceite no grupo de países credíveis, a quem se emprestava a custos módicos. Isso era grande novidade para um país habituado a ser marginal. Infelizmente a oportunidade foi acompanhada, não de prudência e moderação, mas de um deslumbramento que fez explodir o crédito recebido. a dívida externa bruta, que era 28 por cento do produto nacional em 1992, passou para quase 250 por cento hoje. Quando a crise internacional levou os nossos credores a deixar de acreditar na capacidade de cumprirmos as nossas obrigações, fechando-nos o acesso a novos empréstimos, tivemos de inverter de repente hábitos gastadores que acumuláramos durante muito tempo. Felizmente que os parceiros comunitários vieram em nossa ajuda, fornecendo créditos que supriam as necessidades imediatas. Mas só o fazem com condições fortes de austeridade, aliás indispensáveis para reganhar a credibilidade e equilíbrio que nos permita regressar à normalidade económica. Este é o momento mais difícil do ajustamento. Os sacrifícios já foram muitos mas ainda falta um bom bocado. Erros de 15 anos não se resolvem em 15 meses, e há ainda muita coisa a mudar e reformar. Por outro lado o sofrimento já foi grande, e as consequências começam a sentir-se em múltiplas áreas. O elemento mais sensível e preocupante é, sem dúvida, o desemprego. Portugal, habituado a taxas muito inferiores às dos seus parceiros europeus, encontra-se agora com níveis acima dos 15 por cento, que manifestam graves consequências a todos os níveis. No que toca aos jovens entre os 15 e 24 anos, as taxas são superiores a 35 por cento, o que constitui um dos sinais mais preocupantes da situação. É preciso dizer que o desemprego jovem é sempre mais elevado que a média nacional, e a atual relação, pouco acima do dobro, não está longe do padrão habitual. Há mais de 30 anos que a taxa do desemprego jovem flutua entre as duas e duas vezes e meia do valor global, tendo nos anos 1970 atingido níveis acima dos três. No entanto, estes valores revelam um problema mais sério. Está a ser difícil eliminar muitos direitos adquiridos, que a sociedade não consegue sustentar, mas que foram facultados durante o período de endividamento. Os grupos instalados defendem juridicamente essas benesses, o que dificulta o ajustamento. Isso vê-se bem precisamente no campo do emprego jovem, porque os trabalhadores mais velhos têm capacidade para acautelar a sua posição, desviando a carga para aqueles que acabam de entrar no mercado de trabalho. a presente crise está a ser bastante traumática, em particular para os jovens. Mas é importante também lembrar que são exatamente as gerações que defrontam dificuldades nos primeiros tempos da sua atividade que, em geral, depois conseguem grandes feitos com impacto duradouro no progresso e civilização. Os bloqueios atuais vêm precisamente de gerações instaladas, hoje idosas, que na juventude viveram épocas fáceis.