a África é o continente mais afectado pela Sida e as sucessivas campanhas de sensibilização parecem não surtir o efeito desejado.
a África é o continente mais afectado pela Sida e as sucessivas campanhas de sensibilização parecem não surtir o efeito desejado. Seminários de formação e de programação, nos melhores hotéis de Maputo Sem sombras de dúvida, a Sida é uma das palavras mais usadas em Moçambique nos últimos anos. Toda a gente já ouviu falar de Sida e já todos usaram a palavra. Porém, muitos são aqueles que não sabem o que, na verdade, significa.
é um dos grandes desafios da saúde em Moçambique. a epidemia que mais afecta este país é a malária, também conhecida como paludismo. Os casos de infecção são superiores aos da Sida e causam um elevado número de óbitos, sobretudo entre as crianças de tenra idade.
a particularidade da Sida é que se trata de uma doença contagiosa que, no caso da África, se torna quase endémica, ou seja, afecta um povo ou uma região. Na África e, particularmente, em Moçambique, apresenta dimensões catastróficas, devido à extensão do contágio e à camada social afectada.
Mais de 17 milhões de africanos perderam a vida devido à Sida e uns vinte e cinco milhões estão infectados com o ví­rus. Dos infectados 1,9 milhões são crianças. a camada social mais atingida é a juventude. O facto de a actividade sexual iniciar a uma idade muito tenra (10 ” 12 anos), sem dúvida contribui para os efeitos desastrosos desta doença.
Pressionado por governos e organizações estrangeiras, o governo moçambicano começou, há alguns anos, campanhas de combate a esta doença. Recordo que em 1996-97, aquando do primeiro encontro com terras moçambicnas, o governo realizou um programa de sensibilização e de prevenção da doença. Nessa altura a estratégia era fazer propaganda em favor do preservativo. Promoveu uma campanha nas escolas (secundárias e nível médio) a nível nacional, na qual especialistas mostravam e ensinavam aos meninos e meninas (com 12 anos e menos) onde colocar e como usar o preservativo.
Olhando agora para esses tempos, devo admitir que alguma coisa mudou. Nas campanhas de sensibilização já podemos ouvir palavras proibidas como “abstinência” e “fidelidade”. Já se aconselham os jovens a retardar o início da actividade sexual, a ter cuidado na escolha do parceiro e a ser fiéis ao mesmo. Certamente estas pequenas mudanças foram motivadas pela eficácia daquela primeira campanha. De facto os casos de infecção tinham registrado uma diminuição desde então.
a realidade da Sida também atrai doações estrangeiras. Frequentemente encontramos nos jornais cifras referentes a doações destinadas à prevenção e combate desta doença. Muitos destes fundos desaparecem nos salários e na aquisição de veículos para os activistas. São também frequentes seminários de formação e de programação, nos melhores hotéis de Maputo. Mas para os doentes e para a população em geral as melhorias são poucas.
Há também actividades e melhorias que eu notei – pode haver outras – para a população em geral. a primeira é sem sombras de dúvida a criação da Clínica “Sol Nascente” que, sob a direcção do governo e com o apoio de “parceiros”, abriu vários centros, que fazem o teste da Sida gratuitamente. Garantem também o acompanhamento de grávidas infectadas com esta doença, de maneira a facilitar o nascimento de uma criança sã.
a comunidade de “Santo Egídio” tem investido fundos e pessoal nesta causa. Dedica-se sobretudo ao acolhimento de doentes na fase terminal, ao acompanhamento de grávidas e à investigação. Equipam alguns laboratórios, onde voluntários, sobretudo italianos, fazem os testes e adiantam outras investigações. algumas ordens religiosas dedicam-se ao acolhimento e cuidado de doentes, sobretudo terminais.
O grande problema é que os medicamentos (retro virais) não estão ao alcance das bolsas moçambicanas, em geral. Tenha-se presente que o doente deve acompanhar a medicação com uma dieta especial e deve encontrar um trabalho indicado (poucas horas e pouco esforço fí­sico). Na vida concreta tal situação traduz-se em graves problemas económicos. Se encontrar trabalho já é uma aventura digna de Hércules ou de outro herói da antiguidade, para um doente de Sida é uma quimera. Sem emprego não há “mola” e sem “mola” ninguém salta, isto é, não há medicamentos nem alimentação equilibrada.
O Brasil prometeu abrir aqui em Moçambique uma fábrica de medicamentos destinados aos doentes de Sida, de maneira a baixar os preços e alargar as possibilidades de uso. Infelizmente a promessa brasileira parece ser de telenovela: tudo bem na TV, mas na vida o sumo tem sabor diferente. Fica a esperança, pois a esperança é coisa que nem com a Sida morre. Ou morrerá?