«Casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão», diz o ditado. No momento atual, este não tem cabimento. Já não se ralha, critica-se duramente as novas medidas de austeridade sem equidade aparente
«Casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão», diz o ditado. No momento atual, este não tem cabimento. Já não se ralha, critica-se duramente as novas medidas de austeridade sem equidade aparenteOs nossos governantes não foram competentes e responsáveis na gestão pública do nosso país, ao longo de vários anos, e para que este não entrasse em bancarrota foi necessário recorrer ao apoio de entidades da União Europeia (troika). O Governo português assinou em 2011 um contrato conjunto com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para que estas entidades financiassem o país com uma verba de 78 mil milhões de euros, valor ao qual é necessário juntar 34. 400 milhões de euros em juros pelo empréstimo. Para a concretização desta operação foi necessário assinar um programa de ajustamento com um prazo de três anos, ou seja, a terminar em 2014, se o nosso país conseguir cumprir as metas traçadas.

Desde o ano passado que Portugal está a ser governado pelo bloco PSD/CDS que implementou parte das medidas que consubstanciam o acordo celebrado e que tem em vista equilibrar as contas do Estado. Para isso foi necessário introduzir novas leis e medidas complexas para atacar os problemas crónicos de má gestão existentes. No entanto, a forma de o fazer não correspondeu às expetativas justas e de equidade que o bom senso ditava, indo ao encontro do acordo que vincula as duas partes. as medidas avançadas penalizaram essencialmente a classe baixa e média dos trabalhadores do Estado e, agora, as anunciadas no passado dia 6 (para o ano de 2013) pelo primeiro-ministro Passos Coelho vão atingir mais os trabalhadores privados.
Para além do imbróglio já criado com os subsídios, e que foram chumbados pelo Tribunal Constitucional (TC), junta-se agora outro por violar a equidade que foi a base que presidiu a tal decisão do TC quanto aos ditos subsídios. Mas o problema principal não está aí, mas sim (mais uma vez) na forma que o Governo encontrou para impor mais austeridade. Não impôs impostos sobre o capital e a riqueza como devia, mas sim aos trabalhadores que vão passar a pagar mais à Segurança Social, dos atuais 11% para 18%, enquanto as empresas vão ter um alívio da Taxa Social Única, possivelmente sem grandes consequências positivas. Contudo, para os funcionários a dose é dupla: o Governo vai manter no Orçamento do Estado para 2013 o corte de um dos subsídios e vai repor o outro distribuindo-o por doze meses de salário. Já no caso de pensionistas e reformados, os efeitos são piores: o Governo vai manter o corte dos dois subsídios até ao fim do programa da troika.

as críticas de todos os partidos (com exceção dos que estão no Governo), de sindicatos e outras entidades, economistas incluídos, relevam a gravidade da situação que vai atingir ainda mais aqueles que estão a pagar a crise: as famílias e indivíduos com mais carência económica.como diz uma das centrais sindicais (CGTP): São medidas muito injustas. Dados divulgados sexta-feira passada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que a procura interna baixou, ou seja, as pessoas estão a comprar menos e as exportações registam agora a taxa de crescimento mais baixa desde 2009.com as medidas agora anunciadas para 2013 cairão ainda mais. Se não forem feitas as reformas adequadas no Estado (que a troika impôs) e taxar os mais ricos, como será o futuro dos portugueses? Teremos que continuar a caminho do abismo? O meu desejo era transmitir-vos uma palavra de esperança, mas até ela me parece tão distante que entendo ser meu dever dizer-vos que devemos ser solidários com aqueles que sofrem, independentemente da sua condição.