a prática sacramental e a vivência do matrimónio, que afastam muitas pessoas dos sacramentos, por vezes, sem culpa pessoal, é um enorme desafio da realidade moçambicana à Igreja.
a prática sacramental e a vivência do matrimónio, que afastam muitas pessoas dos sacramentos, por vezes, sem culpa pessoal, é um enorme desafio da realidade moçambicana à Igreja. Quem exerce o ministério de pastor em paróquias de terras de Moçambique, na Igreja católica, encontra-se frequentemente perante um dilema de não fácil solução. O dilema é causado pela constatação de dois fenómenos: por um lado, todos os anos realiza-se um grande número de baptismos, primeiras comunhões e crismas, sobretudo nas paróquias de cidade. Muitos destes fiéis irão, mais tarde, engrossar as fileiras de outras Igrejas ou seitas cristãs.
Por outro lado um número considerável de católicos encontra-se numa situação de vida que os afasta dos sacramentos. a maior dos obstáculos impeditivos tem a ver com a situação matrimonial.
O pastor confronta-se com o problema de escolher entre o rigor e o fazer vista grossa. Grande parte da legislação, nesta matéria, ultrapassa-o. é uma situação que exige e provoca reflexão. Uma grande fatia do povo de Deus encontra-se impossibilitada de aceder aos sacramentos, por vezes vítima inocente do mau comportamento alheio.
aqui é prática comum, as pessoas não casarem sem primeiro terem convivido um certo tempo e, até mesmo, ter alguns filhos antes de realizar o matrimónio. as condições económicas não facilitam: os matrimónios são festas caras, em que, por motivos sociais, é necessário gastar e mostrar o que se tem. Por vezes até o que não se tem.
é necessário, além do mais, notar que os homens nesta matéria são um pouco cautelosos. Não se comprometem. Há sempre a perspectiva de poder trocar a companheira por outra mais jovem, mais bonita, mais… Nunca se sabe. a família é uma grande responsabilidade.
Temos assim um grande número de pessoas que, ainda que frequentem a Igreja e, em linha geral, se apresentem como “bons cristãos”, não estão na situação do casamento “canónico”. Por isso não participam plenamente na vida da Igreja. Quase como cristãos de segunda classe. Necessário será notar que, por vezes, os cristãos de “primeira classe” não estão tão imaculados.como o pecado é privado ou conhecido por poucos, lá se vão dando ao luxo de comungar e até celebrar os sacramentos, como mostram recentes escândalos.
é deveras um grande problema que deveria ser afrontado. Não estou a sugerir que se deveria admitir indiscriminadamente, ou talvez sim, todas as pessoas aos sacramentos. a participação nos sacramentos implica um comportamento, um caminhar como diria São Paulo.
Porém, os sacramentos não se destinam aos anjos, mas a homens e mulheres de hoje, com as suas dificuldades e deficiências de caminho. Na minha opinião pessoal será necessário implementar mais a medida da misericórdia, que é fundamental na vida da Igreja. Penso que o maior pecado, o único que Jesus condenou sem apelo, é o da hipocrisia, conhecido por farisaí­smo. é uma tentação que não está longe de cada um de nós.