Sob o título «Passemos para a outra margem», o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura apresenta um belíssimo texto de reflexão sobre o tema «Férias».com a devida vénia, permitimo-nos transcrevê-lo para o levar aos nossos leitores
Sob o título «Passemos para a outra margem», o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura apresenta um belíssimo texto de reflexão sobre o tema «Férias».com a devida vénia, permitimo-nos transcrevê-lo para o levar aos nossos leitoresPenso muitas vezes na sugestão que Jesus faz aos discípulos, mais do que uma vez: Passemos para a outra margem (Mc 4,35). Há um sonho do qual não podemos desistir: o sonho de que a Igreja, em cada uma das suas comunidades, se pareça também com uma família alargada em gozo de férias e não apenas a um laborioso centro de prestação de serviços, sobretudo se anónimo ou impessoal.

Nessas férias seria diferente! Saberíamos o nome uns dos outros e mais: daríamos tempo para saborear a história e a presença que cada um é. Não seria o relógio a presidir aos nossos encontros, nem a utilidade imediata a emprestar justificação às nossas procuras. Pelo contrário: estar em comunidade seria como caminhar junto ao mar, sem nenhuma pressão de horários (exteriores e interiores), entregues ao prazer da contemplação e da companhia. Ou como passear pela montanha, entusiasmados por visões alargadas onde a paisagem refulge numa transparência que quase haviamos esquecido.

Nessas férias seria diferente! aboliriamos o rotineiro fast food religioso, que apenas serve para enganar a fome, deixando que a alma se alimente e revitalize como precisa: no silêncio e na palavra, no encontro e no dom, na escuta e na prece. Buscaríamos juntos, como peregrinos experimentados, a abundância ainda intacta das fontes que nos irrigam, sentindo-nos depois reconciliados e gratos pela fantástica vizinhança delas. E faríamos o mesmo com a beleza dos lírios, da qual Jesus falou, com o dourado apaziguador que podem ter os campos à nossa passagem ou com o canto dos pássaros cada vez mais alto.

Nessas férias seria diferente! a Refeição constituiria o centro, mas como deliberado espaço de multiplicação para a vida: partilhando o pão que expande a graça, bebendo o vinho que amplia a festa.