Estiveram dias abrigados num abrigo subterrâneo, sem luz, sem água e sem comida, depois de um mí­ssil ter deixado a sua habitação em ruí­nas. Passaram fome, com os dois filhos menores, e viram pessoas a lutar por um punhado de arroz. Conseguiram fugir para o Brasil

Estiveram dias abrigados num abrigo subterrâneo, sem luz, sem água e sem comida, depois de um mí­ssil ter deixado a sua habitação em ruí­nas. Passaram fome, com os dois filhos menores, e viram pessoas a lutar por um punhado de arroz. Conseguiram fugir para o Brasil
andressa de Oliveira, 26 anos, nascida e criada em São Paulo, no Brasil, nunca imaginou ver e passar pelos horrores que testemunhou na cidade de Homs, na Síria, onde vivia com o marido, Jehad Moahmed (32), e os dois filhos menores – uma menina de dois anos e um menino de seis. Uma senhora perdeu a filha um dia depois de perder o marido. a menina foi cortada ao meio e a mãe estava desequilibrada. Queria levar a metade do cadáver da filha para o abrigo de qualquer forma, contou a brasileira à BBC. Tudo começou numa quinta-feira. Um amigo disse-me que o Exército cercaria o meu bairro, mas não consegui retirar a família a tempo e ficamos presos por lá.começaram então os bombardeamentos. Quando o míssil caía, abria os prédios ao meio, ou uma cratera onde cabia um carro. Ficamos assim por sete dias. Nessa altura tínhamos deixado o nosso apartamento no segundo andar e ficado no da minha mãe no primeiro andar. Um pedaço de míssil derrubou a parede da minha cozinha, relatou Jehad, que trabalhava como despachante na terceira maior cidade do país.com a intensificação dos bombardeamentos, o casal escondeu-se num abrigo subterrâneo, que logo se tornaria pequeno demais para a família. Os meu filhos mal conseguiam respirar e faltava tudo. Era terrível porque não havia luz e toda a comida que estava nos frigoríficos estragou-se. as crianças choravam de fome e eu não tinha muito para dar. as pessoas brigavam por um punhado de arroz, comiam comida estragada, recordou Jehad. Quando conseguiram deixar o abrigo, andressa e Jehad fugiram para Damasco, à procura de ajuda na embaixada do Brasil. Mas até chegarem à capital, passaram por alguns sustos, nas barreiras montadas pelo Exército fiel ao regime de Bashar al-assad. Num deles, os soldados suspeitaram que eu fosse mais uma jornalista estrangeira e diziam que me iam levar para interrogatório. Sabíamos que se me levassem me matavam ou, no mínimo, me violavam. Valeu a intervenção de um comandante que me libertou por eu ser brasileira e o Brasil estar do lado deles, explicou andressa. andressa e os filhos conseguiram ajuda da embaixada, que pagou suas passagens aéreas e hospedagem, a partir do momento em que chegaram a Damasco. O marido, por não ter nacionalidade brasileira, teve que voltar a Homs para conseguir dinheiro para o bilhete de avião. O casalvive agora numa casa emprestada por familiares, na zona norte de São Paulo, no Brasil. ambos desempregados e sem dinheiro, não sabem o que vai ser do seu futuro. Mesmo assim, Jehad mostrou-se otimista: Quando assad deixar o poder, a vida vai ser melhor por lá.