Serralheiros, canalizadores e torneiros mecânicos tem ofertas de salário mais altas de que engenheiros e doutores, segundo o portal do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Uma realidade que já não é nova, mas parece surpreender
Serralheiros, canalizadores e torneiros mecânicos tem ofertas de salário mais altas de que engenheiros e doutores, segundo o portal do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Uma realidade que já não é nova, mas parece surpreenderOs resultados da falta de uma política educativa devidamente adequada ao mercado do trabalho, que noutros países é uma realidade concreta, há muito que se faz sentir no nosso país sem que os responsáveis a corrijam, por incompetência ou outros motivos. O ensino em Portugal antes do 25 de abril tinha uma componente em vista da integração dos jovens no mercado de trabalho. É o caso das escolas comerciais e industriais. Mas após o golpe de estado tudo desmoronou, sem que houvessem sido criadas alternativas. ao longo da governação, e independentemente dos partidos que estiveram no poder, a maior parte das alterações foram no sentido do alargamento da escolaridade obrigatória, mas não da sua qualidade e utilidade futura, pois os políticos assim o quiseram.

Os resultados estão à vista. Somos um país de doutores e engenheiros, não importa em quê, mas não temos mão de obra à altura, de qualidade, por que poucos se preocuparam com a qualidade do ensino ao serviço do trabalho. as escolas industriais e comerciais formavam alunos que à saída tinham sempre lugar no mercado de trabalho, hoje nem as Universidades conseguem formar doutores que tenham assegurada uma colocação a cinco anos e muito menos imediata, salvo raras exceções. Escolas básicas e secundárias, universidades incluídas, só tiveram uma preocupação: responder à procura de alunos e subir a oferta. Nada mais errado. O Estado que deveria ser um regulador sério e competente demitiu-se da sua obrigação.

Já há alguns anos que ouvia dizer: precisa-se de um pedreiro, não há; canalizadores e carpinteiros ganham o que querem; pintores são raros; mecânicos ganham grandes ordenados e aparecem poucos, eletricistas nem vê-los, ou seja, havia e há profissões que são bem remuneradas. Mas fica uma pergunta por responder: como é que se formaram todos esses homens e mulheres que enveredaram por essas profissões e outras? Uns aprenderam com os mestres, outros com os colegas e o conhecimento foi-se acumulando o que lhes permitiu manter um trabalho estável e razoavelmente pago. No entanto algo faltou: a base de formação profissional que deveria ter começado a partir da escola, mas que foi suficiente para formar professores, engenheiros, arquitetos, advogados, juízes, médicos, gestores e tudo isso à conta do erário público.

É certo que a escolaridade obrigatória foi aumentando, mas não a qualidade e diversidade de ensino que permitisse uma integração positiva na vida do trabalho. E os trilhos que foram errados parecem ter continuidade: já se pensa em alargar o tempo de escolaridade até ao 12º ano. Na situação difícil em que se encontra o país (e continuará por alguns anos), com as famílias no limiar da sobrevivência, querem que os jovens estudem até ao 12º ano? É uma medida cujo insucesso é certo. as famílias não vão suportar os custos e isso vai gerar mais abandono escolar. Haja bom senso. Há necessidade urgente de reformular o ensino em Portugal, de uma forma séria, competente, mas compatível com o presente, tendo o futuro como meta. Será essencial a alteração da visão política e social dos governantes, de outra forma não teremos futuro em Portugal para as gerações seguintes e ainda menos para as atuais.

Mas voltando ao tema da notícia, e pelo insólito, nas três mil ofertas de emprego disponíveis na internet através no portal do IEFP, verificamos que para as profissões com baixa escolaridade, casos de serralheiros, canalizadores e outras, as propostas salariais são idênticas ou até superiores às oferecidas a advogados, engenheiros, arquitetos e outros. Se tivermos em conta que os formados ou doutorados investiram tempo e capacidades que agora equivalem (em termos monetários de retribuição) àqueles que não o fizeram, teremos que concluir que algo está errado no reino do ensino versus trabalho. E será bom lembrar que a maioria das mais de três mil ofertas de emprego correspondem a contratos temporários e algumas são disponibilizadas ao abrigo da nova medida de estímulo 2012, criada pelo Ministério da Economia para apoio à contratação nas empresas.como dizia um velho conhecido que já não está entre nós: ao que isto chegou.