« a degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana: quando a «ecologia humana» é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental»
« a degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana: quando a «ecologia humana» é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental»Esta afirmação da encíclica de Bento XVI Caritas in Veritate ajuda a explicar, em parte, um paradoxo atual: existe hoje uma consciência ecológica muito mais difundida do que no passado, sobretudo entre os jovens; no entanto, as medidas para defender o ambiente são tímidas, quando não sucessivamente adiadas. a conferência do Rio de Janeiro sobre desenvolvimento sustentável teve fracos resultados, como já tinha acontecido com a cimeira de Copenhaga em 2008. Ressalto, todavia, um aspeto positivo: ligou-se a defesa do ambiente ao combate à pobreza. É que, por vezes, um certo fundamentalismo ecológico dá mais valor à preservação de um inseto ou de uma planta do que a eliminar a fome que ainda afeta grande parte da humanidade (não obstante existirem, hoje, recursos para alimentar todos). É a tal falta de ligação entre a ecologia humana e a ecologia do ambiente de que fala Bento XVI. a pressão da crise financeira, agora centrada na zona euro, dá aos políticos motivo (ou pretexto?) para não tomarem as necessárias medidas na área do ambiente. E os países ditos emergentes, como a China (onde a poluição é grande), reclamam que as nações há mais tempo industrializadas paguem o grosso da fatura da defesa do ambiente, alegando que elas poluíram à vontade durante décadas. a defesa do ambiente também é prejudicada pela falta de consenso entre cientistas sobre problemas como o aquecimento global ou as alterações climáticas. O que lança a dúvida sobre a necessidade de medidas imediatas e caras, sendo incertos os benefícios futuros. Mas parece inegável que algo está a acontecer. a brutal diminuição de gelo, nos últimos anos, no círculo polar ártico, por exemplo. Por outro lado, os políticos – e, com eles, muitos de nós – pensam apenas no imediato, no curto prazo. Estamos, assim, a legar às próximas gerações um planeta em pior estado ambiental do que aquele que encontrámos. O que envolve, acima de tudo, uma questão ética, mais do que problemas técnicos e políticos. ao menorizar, na prática, os problemas do ambiente, o nosso egoísmo individualista não respeita o imperativo moral de assegurar justiça entre gerações.