Os portugueses nunca precisaram tanto de um sindicalismo sério como agora. Mas os líderes e sindicalistas ainda não o entenderam. Uma grande parte deles parou no tempo, insiste em direitos e garantias que não são possí­veis
Os portugueses nunca precisaram tanto de um sindicalismo sério como agora. Mas os líderes e sindicalistas ainda não o entenderam. Uma grande parte deles parou no tempo, insiste em direitos e garantias que não são possí­veisO 25 de abril de 1974 trouxe nova vida ao sindicalismo em Portugal, garantindo logo no programa político do Movimento das Forças armadas (MFa) a liberdade sindical e o direito à greve. Criam-se – ou legalizam-se – as confederações sindicais como a CGTP-IN, de cariz comunista, e a UGT, socialista. Grande parte dos sindicatos existentes é destas duas correntes, havendo poucos independentes. a necessidade da sua existência para defesa dos direitos dos trabalhadores é inegável. Mas também é verdade que os seus dirigentes têm que se adaptar às realidades socioeconómicas existentes em cada momento. Ou seja, quando o Estado e as empresas têm riqueza para distribuir é perfeitamente legítimo que estes reclamem e lutem por melhores condições e salários. O mesmo já não pode acontecer quando não é esse o caso, como acontece atualmente.

O que verificamos no presente é que a luta que fazem em relação ao patronato e ao Estado não tem em consideração a crise que o país atravessa, atirando para cima da mesa com reivindicações quase impossíveis de satisfazer. Os exemplos dessa prática são diários e acabam por arrastar os trabalhadores para situações de insustentabilidade não só para eles como para o resto da sociedade. O caso da CGTP é exemplar nesse aspeto, não só por que está subordinada ao Partido Comunista Português (PCP), mas porque se serve dos trabalhadores para fazer política partidária, o que é lamentável pela instrumentalização destes. Utilizam a demagogia pura e todos os meios servem para atingir os fins, esquecendo que os trabalhadores também têm deveres e não apenas direitos.

Portugal continua a precisar de um sindicalismo forte e interventivo que defenda os trabalhadores. Convém não esquecer que só há trabalhadores se houver empregadores, que, por acaso, também pagam o salário dos sindicalistas. Por outro lado, as greves que vão sendo decretadas e cumpridas pelos sindicatos nos mais diversos setores começam a ser mal aceites pela população em geral, especialmente nos meios de transporte essenciais à deslocação de outras pessoas que, na sua maioria, também trabalham. afinal há aqui uma contradição flagrante. Os sindicatos lutam pelos direitos dos trabalhadores, mas os outros não precisam de ver respeitados os seus?

Na conjuntura de crise em que estamos a tentar sobreviver, o desemprego aumenta permanentemente e há necessidade que os sindicatos cumpram o seu papel de elemento moderador, sem perder o espírito de defesa do trabalhador. É preciso que os dirigentes sindicais tenham melhores práticas e avaliem as consequências da sua ação. as greves estão a tornar-se um sorvedor de riqueza que já não existe, prejudicando imenso a economia do país e criando um mal-estar social cada vez mais perigoso. O nosso povo diz que em casa que não há pão, todos ralham sem razão mas isso não justifica tudo. Precisamos do bom senso e do esforço de todos para seguir em frente, não só dos sindicatos, mas dos governantes também.