Os portugueses parecem anestesiados com a prestação da seleção nacional no campeonato da Europa de futebol que está a decorrer na Polónia e Ucrânia. a crise está cá, mas segue dentro de momentos
Os portugueses parecem anestesiados com a prestação da seleção nacional no campeonato da Europa de futebol que está a decorrer na Polónia e Ucrânia. a crise está cá, mas segue dentro de momentosO futebol é um desporto de massas. Em calão, a palavra significa dinheiro; no termo mais lato e conhecido equivale a grande quantidade, neste caso, de população. O futebol profissional, a todos os níveis, segue nessa direção, independentemente de ser praticado em clubes ou seleções dos países, no caso específico, da Europa. Se olharmos para o resto do mundo, pouco muda, pois a rota é literalmente a mesma. apesar do desvirtuamento da prática do futebol a que vamos assistindo, devido aos interesses económicos ou políticos de que se aproveitam os mais fortes ou ditos espertos, mesmo assim este desporto tem uma adesão popular quase global, o que nos deve fazer pensar em relação ao fenómeno que constitui para o ego das populações.

O Campeonato Europeu que se iniciou na Polónia e Ucrânia decorre desde 8 de junho e terá o seu termo em 1 de julho, envolvendo equipas de 16 países. Portugal ultrapassou a fase de grupos e defrontou a República Checa no último jogo, passando assim às meias-finais onde vai defrontar a Espanha na próxima quarta-feira. Televisão e imprensa dão-nos conta diariamente de todos os pormenores, por mais ínfimos que sejam, não só do campeonato, mas especialmente de tudo que se passa com a seleção portuguesa. Ficamos assim a saber que os futebolistas que ganham valores exorbitantes, tendo em conta o ordenado mínimo dos portugueses, aqueles que o recebem, estão a ser tratados principescamente e a Federação Portuguesa de Futebol até fretou um avião para levar os familiares para a Polónia, o que roça o exagero, afrontando mesmo os mais desfavorecidos.

Este quadro já nos diz alguma coisa, ou seja, que o futebol é uma indústria à parte. aí movimentam-se uns quantos privilegiados, sem qualquer solidariedade com a sociedade em que se integra. Esta apenas conta para eles na medida dos seus interesses. Mesmo assim, milhões de portugueses seguem com atenção a participação da seleção e torcem para que esta vá o mais longe e, se possível, que ganhe o campeonato europeu. a isto poderemos chamar patriotismo (quem não gosta que Portugal suplante os outros países?). a verdade é que também nos subtrai à realidade atual que, para muitos, continua a ser dolorosa e para outros parece intransponível.

É mais que evidente, neste setor do futebol, o aproveitamento político dos diversos países, tornando-se mesmo confrangedor. Os meios de comunicação social encarregam-se de nos mostrar as imagens e as notícias que o confirmam. Recentemente tivemos oportunidade de apreciar a chefe do governo alemão – as imagens correram mundo – em plena bancada durante o jogo alemanha x Grécia a sofrer pela sua equipa e certamente que ficou satisfeita com a vitória da alemanha, como é natural. O facto desta personalidade e outras com responsabilidades da condução política dos seus países, se mostrarem tem outros significados que vão muito além do futebol. Serve para a sua promoção junto do povo e podem crer que é um meio muito eficaz.

Em nossa opinião o futebol pode ser alienante e serve de escape a muita coisa. É um meio eficiente para fazer esquecer problemas reais. Só que não podemos ir por esse caminho. Vibrar com o futebol pode ser bom, mesmo que passageiro, mas não devemos subir para esse comboio cuja velocidade pode ser uma voragem a caminho do abismo. Não confundamos futebol com o dia a dia. Temos o direito de sonhar, mas não o de esquecer a falta de solidariedade que campeia na nossa sociedade. O futebol move paixões e ódios, raramente amor ou compaixão. Há mais futebol para além deste tipo de competição. Há o futebol que serve enquanto elemento formador das pessoas, especialmente dos jovens, onde a cultura física se alia a outros comportamentos que elevam os valores da pessoa humana. É esse que devemos cultivar.