O poeta e ex-candidato à Presidência da República, Manuel alegre, considera urgente um novo diálogo entre homens e mulheres de boa vontade, para que se alcance uma reviravolta cultural. E se ultrapasse o vazio, a falta de alegria e de esperança
O poeta e ex-candidato à Presidência da República, Manuel alegre, considera urgente um novo diálogo entre homens e mulheres de boa vontade, para que se alcance uma reviravolta cultural. E se ultrapasse o vazio, a falta de alegria e de esperançaEstamos numa crise de civilização. Há mais mundo para além da economia e não podemos suportar viver numa sociedade onde muito poucos estão a ganhar à custa da pobreza e até da destruição da soberania dos países, afirmou Manuel alegre, esta sexta-feira, em Fátima. Para o poeta, que foi um dos oradores na 8º Jornada Pastoral da Cultura, vive-se hoje um clima de grande crispação e de ausência de valores, que exige um novo diálogo entre pessoas de boa vontade e de diferentes inspirações para que se dê a reviravolta cultural sugerida recentemente pelo cardeal-patriarca de Lisboa. O que se faz hoje é uma politica de austeridade e a austeridade provoca recessão, adiantou Manuel alegre, à margem do encontro promovido pela Igreja católica, sublinhando que ao cortarem-se os subsídios e salários, corta-se também a esperança, o sonho, e o direito a uma perspetiva para o futuro. Segundo o poeta, não se pode viver sem esperança.como tal, é necessário encontrar as palavras para dar esperança e para mudar a sociedade. E isso é uma responsabilidade de todos, os que estão na Igreja e os que não estão. alegre destacou ainda a importância do Concílio Vaticano II – documento que inspirou a jornada – na redefinição da relação da Igreja com o mundo. Organizado para ajudar a Igreja a enriquecer a sua linguagem e a manter-se atualizada no domínio das expressões culturais, o encontro proporcionou uma saudável divergência de opiniões, mas também alcançou convergências. Nomeadamente ao nível de uma nova ocupação dos espaços públicos, defendida por mais do que um interveniente. Há hoje uma consciência muito grande de que é preciso traduzir a pastoral em termos culturais. Não podemos ficar a falar nas quatro paredes dos templos, mas no lugar onde a pessoa está, cresce, sofre, ama, sonha, que é o espaço público, onde a Igreja pode ter a sua presença e radicar aí o anúncio do Evangelho, destacou o padre José Tolentino Mendonça, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC). Para a pintora Emília Nadal, outras das convidadas, a Igreja precisa de entender o mundo tal como ele é e não como desejaria que fosse. Só se entendermos a realidade do mundo e estivermos nela é que podemos ter a linguagem adequada e chegar áquilo que as pessoas esperam entender, num diálogo, aberto e em caridade, frisou a artista. Tolentino Mendonça acredita que já se está a caminhar nesse sentido. Há um apelo da cultura a que a Igreja faça ouvir a sua voz e, ao mesmo tempo, há uma consciência paralela no interior da Igreja para que se escute mais o mundo, que se abra mais às vozes da cultura. E isso passa, sobretudo, por conhecer, dar espaço e oportunidade a que a sabedoria dos artesãos do mundo da cultura possa ser acolhida também como experiência humana, como património espiritual para a própria igreja.