Depois de um ano a ajudar na organização de infantários e a dinamizar atividades de animação infantil em Moçambique, Filipa Carvalho, 26 anos, missionária leiga da Consolata, regressou a casa, com novos hábitos e muito mais fé
Depois de um ano a ajudar na organização de infantários e a dinamizar atividades de animação infantil em Moçambique, Filipa Carvalho, 26 anos, missionária leiga da Consolata, regressou a casa, com novos hábitos e muito mais fé a socióloga, residente em Lisboa, já tinha estado por duas vezes em Moçambique. a primeira, em 2009, para concluir o curso de formação de três anos, tirado no Cacém. a segunda, entre janeiro de 2010 e janeiro de 2011, para desenvolver um projeto na Missão de Nossa Senhora de Fátima de Vilankulo, na província de Inhambane. Mas nem assim deixou de se emocionar quando teve que voltar a deixar Vilankulo, em abril deste ano, depois de mais um ano de trabalho voluntário. Filipa acredita que Jesus é motor de todas estas aventuras. Fátima Missionária – O que a levou a partir em missão? Filipa Carvalho – Foi sentir que tinha chegado a minha hora para partir, sentir o chamamento. – Que impacto teve esta experiência na sua vida e na forma de encarar o mundo? – É uma experiência muito forte de fé e fez-me crescer muito a nível pessoal. a nível emocional conheci muitas pessoas, muitas situações de vida difíceis e deixei muitos amigos que jamais irei esquecer. Por fim, ter conhecido uma cultura, uma forma de estar na vida diferente da minha fez-me repensar os meus hábitos. Em Moçambique tudo se usa até não se poder mais, ao contrário de Portugal em que tudo é descartável. Uma das coisas que mais me impressionou ao voltar foi entrar num hipermercado e ver a quantidade de comida que existe, ao contrário de Moçambique, em que não há essa abundância de comida e produtos. acho que as minhas prioridades mudaram e a forma de consumir também. – O que é preciso interiorizar para embarcar numa aventura deste género? – Que Jesus é o motor desta aventura e que somos inteiramente responsáveis pela nossa partida, ou seja, ninguém tem de nos valorizar ou enaltecer por termos deixado a família e o conforto. – Em que consistiu o seu trabalho? – De uma forma sintética consistiu na organização e direção pedagógica de cinco Infantários de Vilankulo e Mapinhane, orientação da Biblioteca, dinamização de atividades de estudo e do centro de informática, promoção de atividades de animação infantil, visita às comunidades e realização de palestras na prisão de Vilankulo, com acompanhamento semanal de um grupo de presos. – Conseguiu pôr em prática tudo o que tinha idealizado quando partiu? – acho que consegui fazer muitas coisas e coisas diferentes e isso deixa-me feliz, mas claro que há um sentimento de insatisfação, que podia ter feito mais e que há coisas que ficaram por fazer. – O que mais a impressionou? – a grande solidariedade, a imensa hospitalidade dos moçambicanos e os muitos quilómetros que caminham a pé. – É um desafio a repetir? – Gostaria de repetir, se Deus me voltar a chamar! – Destaque dois momentos marcantes: um positivo e outro negativo. – Positivos foram muitos, mas recordo com muita alegria uma semana que acompanhei um dos padres na visita a cinco comunidades rurais. Tivemos que caminhar muito para abençoar as casas, dormir nas capelas e comermos por lá. Mas apesar do cansaço, foi uma grande alegria, as pessoas estavam muito felizes por chegarmos às suas casas. Negativo: a morte da Rostija, uma idosa que vivia no lar a nosso cargo. Ter de preparar tudo como se fossemos da família dela, e junto com a comunidade acompanhar o funeral e as orações, quase sem ninguém e sem uma única pessoa da família. Os funerais em Moçambique têm sempre muita gente e alguém ficar assim, só e esquecido, é triste. – Gostava de convencer alguém a acompanhá-la numa futura missão? – Não, cada pessoa tem a sua hora de partir, o seu momento e o seu sítio. Mas seria a primeira a apoiar quem quisesse fazer uma experiência dessas, porque sei que muitas vezes é difícil ter aprovação e porque é uma oportunidade única e linda na vida.