Entre um regime à procura de resolver o vazio político, criado por um golpe de Estado, e uma declaração unilateral de independência efetuada pelas forças independentistas do norte, vitoriosas mas desavindas, o Mali atravessa um momento de grande incertezaEntre um regime à procura de resolver o vazio político, criado por um golpe de Estado, e uma declaração unilateral de independência efetuada pelas forças independentistas do norte, vitoriosas mas desavindas, o Mali atravessa um momento de grande incertezaO golpe de Estado no Mali, levado a cabo por militares de baixa patente contra o regime liderado por amadou Toumani Touré, acabou por agravar ainda mais aquela que terá sido a causa principal da rebelião militar: a incapacidade do governo em fazer frente ao avanço das forças independentistas. aproveitando o vazio político e a confusão institucional causados pela rebelião militar em Bamaco, a capital do Mali, o Movimento Nacional de Libertação do azaouad, correspondente ao Norte do país, de maioria Tuaregue, e o ansar Dine, um grupo extremista islâmico com ligações à al-Quaeda, lançaram um ataque que culminou com a tomada das principais cidades da região: Gao, Kidal e Tombuctu. armadas, financiadas e treinadas peloex-regime líbio de Kadhafi, as forças independentistas rapidamente se impuseram perante um exército mal organizado, onde grassa a corrupção, e que, antes mesmo do golpe de Estado, estava dado como praticamente derrotado. Difícil soluçãoSe a situação política no Mali se revela difícil, a saída para o problema não o é menos. Por um lado, as autoridades de Bamaco vão ter de ultrapassar o vazio político gerado com o golpe de Estado de março, uma vez que a Comunidade Internacional rejeitou reconhecer a legitimidade dos golpistas. Por outro lado, os independentistas, após a tomada da cidade de Tombuctu, cindiram-se, defendendo uns a causa da independência nacional e outros um Estado islâmico, cujos objetivos não se limitam ao território azaouad, mas a todo o país. Porém, resumir a questão do Mali ao perigo islâmico ou aos interesses de um movimento independentista que se opõe à realização de um Estado unificado e aos desígnios do seu desenvolvimento é esquecer também as profundas divisões étnicas e políticas não resolvidas e que, por vezes, se aprofundaram durante meio século de história. Constatar isto, 52 anos após a independência do país, é dizer que o Estado não se realizou plenamente num dos seus objetivos: o da integração dos povos que o constituem. a perseguição levada a cabo contra mouros e tuaregues, durante décadas, reforçou a consciência de que os tuaregues não eram malianos. E um dos preços a pagar por isso é o independentismo e o radicalismo religioso. Independentemente dos desígnios da guerra, a fratura a que agora assistimos com a declaração de independência dificilmente será ultrapassada nos próximos tempos.