a transformação do setor da saúde numa área de negócio em Portugal está a permitir lucros indecentes aos grupos financeiros e a esquecer a dignidade dos doentes, denunciou o ex-diretor-geral de Saúde
a transformação do setor da saúde numa área de negócio em Portugal está a permitir lucros indecentes aos grupos financeiros e a esquecer a dignidade dos doentes, denunciou o ex-diretor-geral de Saúde a saúde não pode ser uma área de negócio. Em Portugal, são imorais os lucros que as empresas e os grupos financeiros tiram do setor da saúde. Esta mercantilização leva a uma desvalorização gradativa da pessoa que sofre e que busca cuidados e também ao desrespeito das pessoas que cuidam, afirmou esta quinta-feira, em Fátima, o ex-diretor-geral de Saúde, José Luís Castanheira. Segundo o responsável, os cuidados de saúde, mesmo os mais simples, transformaram-se em bens de consumo e o setor passou a ser encarado como uma indústria, que tem partes interessadas. E o problema é que aqueles que mais precisam, nunca são parte interessada e não participam nas discussões. Ou seja, esta cultura de deixar de olhar à pessoa e passar a encarar o cliente, acaba por prejudicar o doente com mais necessidades. Para José Luís Castanheira, que falava no XXIV Encontro Nacional da Pastoral Social, a lógica de mercantilismo não é solução, mas uma parte do problema, mesmo em contexto de crise, como o que se vive em Portugal e na Europa. É imperioso fazer escolhas. Torna-se cada vez mais evidente não ser possível pretender continuar a dar tudo a todos, porque estamos a dar mais a quem precisa menos. E esta é uma das missões que os grandes apóstolos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) ainda não entenderam, adiantou. O SNS é uma ideia de grande generosidade, produziu em Portugal ganhos em saúde impressionáveis, mas hoje, em contexto de crise, corre o risco de, ao pretender dar tudo a todos, dar menos a quem mais precisa, disse o ex-diretor-geral de Saúde, responsabilizando os profissionais do setor por também se deixarem levar pela roda da eficiência, esquecendo-se, por vezes, da lógica da ética. Temos que discutir os conceitos de justiça e de subsidiariedade. Temos que perceber bem o que é a liberdade de mercado e a liberdade de eficiência. E quais são as barreiras possíveis para ter lucros na saúde, desafiou o médico, que é também professor catedrático do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz.