Num período amargo da economia nacional e mundial, o país está a empobrecer-se. Os sucessivos cortes nos orçamentos familiares estão a reduzir drasticamente o poder de compra dos portugueses e a capacidade de fazer face aos encargos da vida de cada dia
Num período amargo da economia nacional e mundial, o país está a empobrecer-se. Os sucessivos cortes nos orçamentos familiares estão a reduzir drasticamente o poder de compra dos portugueses e a capacidade de fazer face aos encargos da vida de cada diaQuando, em 1886, milhares de trabalhadores desceram às ruas de Chicago, Estados Unidos da américa, para reivindicar a redução da jornada de trabalho para oito horas, ninguém poderia imaginar que, volvidos 126 anos, milhões de desempregados reivindicassem o direito ao trabalho, nas ruas das cidades de Europa, como hoje acontece. O primeiro de maio nasceu para ser festa do trabalho, resultante de uma conquista sindical, contra as excessivas horas diárias de trabalho, contra a exploração laboral. Reduzir o dia de trabalho a oito horas foi então uma conquista, ao passo que, nos nossos dias, será o contrário: aumentar o número dos que têm o privilégio de ver respeitado o seu direito ao trabalho.

Falta o trabalho a milhões de indivíduos desempregados na Europa – e não só – que procuram trabalho com afinco. São sobretudo os jovens os mais afetados pelo drama do desemprego, que teimosamente continua a crescer. Ter nas mãos uma licenciatura para aceder ao mercado do trabalho já se tornou insignificante. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, o desemprego dos jovens anda perto dos 24 %, o que corresponde a cerca de 100 mil portugueses com menos de 25 anos à procura de trabalho. O primeiro de maio arrisca-se mesmo a tornar-se a festa dos desempregados.

Vivemos num período amargo da economia nacional. O país está a empobrecer-se. Os sucessivos cortes nos orçamentos familiares estão a reduzir drasticamente o poder de compra dos portugueses, salvando-nos do desastre, ao menos por agora, o aumento das exportações. Cresce na sociedade o número de homens e mulheres, de carne e osso, que não têm acesso ao circuito produtivo, com familiares às suas costas. Mais de um século após o início da celebração da festa dos trabalhadores em busca de mais dignidade e justiça no campo do trabalho, estamos na estaca zero. O direito ao trabalho esboroou-se. Está esvaziado! Não se podem fechar os olhos a situações de enorme desigualdade, que porventura nos reportam a situações anteriores à revolução dos cravos. Serão toleráveis casos de salários astronómicos comparados com o valor do salário mínimo, com reformas miseráveis de muitos portugueses? Fica a pergunta neste triste primeiro de maio de 2012.