Por si só, o ato de dar é muito importante, mas insuficiente. é necessário fazê-lo de coração aberto. Para exemplificar, escolhemos entre muitos o testemunho do padre Cruz, pela sua proximidade com o povo e Fátima
Por si só, o ato de dar é muito importante, mas insuficiente. é necessário fazê-lo de coração aberto. Para exemplificar, escolhemos entre muitos o testemunho do padre Cruz, pela sua proximidade com o povo e Fátima Este sacerdote, de nome Francisco Rodrigues da Cruz, nasceu em alcochete (Setúbal) e morreu em Lisboa, em 1948. Teve uma vida longa (88 anos), mas cheia de intensa piedade e amor ao próximo, sobretudo para com aqueles que mais necessitavam. Quando traçou o seu programa de apostolado em 1925, dirigiu uma carta a antónio Mendes Belo, cardeal patriarca de Lisboa, na data, afirmando: Há muitos anos que eu me sinto atraído, talvez por especial vocação da misericórdia de Deus Nosso Senhor, para ajudar espiritualmente os presos da cadeia, os doentes dos hospitais, os pobrezinhos e abandonados, e tantos pecadores e almas desamparadas que Nosso Senhor me envia ou põe no meu caminho. a sua vida foi o testemunho da palavra dada, cumpriu escrupulosamente com amor o caminho que traçou. Dos relatos da sua vida que são conhecidos publicamente não constam, pelo menos não é do nosso conhecimento, um episódio que nos foi narrado por um familiar muito próximo (cujo testemunho aceitamos como verdadeiro) que o conheceu e serviu pessoalmente, enquanto sacristão de uma Igreja e depois de uma capela. O padre Cruz usava habitualmente uma batina preta. Um dia, quando esse familiar meu o ajudava a paramentar-se para celebrar a Santa Missa, notou que o sacerdote pouco mais tinha que a veste exterior. Ficou surpreendido, mas não fez qualquer pergunta (por vergonha, disse). Mais tarde teve conhecimento de que o padre Cruz dava a sua própria roupa interior aos pobres que não tinham e por vezes ficava apenas com a sotaina, como ele havia constatado. Este acontecimento sucedeu em Lisboa, não posso precisar em que data, mas creio que na década de1930/40. Por outro lado e no que respeita à sua ligação a Fátima, de acordo com a Segunda Memória (1937), a Irmã Lúcia escreveu que a sua primeira comunhão foi aos seis anos, isto é, em 1913, por ter sido considerada preparada pelo Padre Francisco da Cruz, nessa ocasião a confessar na igreja paroquial de Fátima (6a edição, 1990, página 54). Ou seja, ele também se deslocava para outras Igrejas do país para ajudar os párocos, sobretudo em missões e tríduos. Recordamos ainda que a Jacinta escolheu, entre a ladainha de jaculatórias que o padre Cruz lhes sugeriu (aos pastorinhos) a de Doce Coração de Maria, sede a minha salvação. Esta, às vezes, depois de a dizer, acrescentava, com aquela simplicidade que lhe era natural: Gosto tanto do Coração Imaculado de Maria! É o Coração da nossa Mãezinha do Céu! Tu não gostas tanto de dizer muitas vezes; Doce Coração de Maria, Imaculado Coração de Maria?! Eu gosto tanto, tanto, dizia Jacinta. O padre Cruz conviveu com dois regimes políticos diferentes: a monarquia e o republicanismo, mas manteve sempre um distanciamento do poder, nunca deixou de usar a sotaina, apesar de ter passado por tempos conturbados e ser olhado com desconfiança pelas autoridades. a sua preocupação e enlevo eram a fé (era um adorador do Santíssimo Sacramento) e os mais desprotegidos. Em Lisboa desenvolveu a sua ação especialmente nas ruas da cidade, nas cadeias e nos hospitais, para além das igrejas. Toda a sua vida foi um serviço de amor a Deus, servindo os homens. Num tempo crítico para a Igreja de Portugal, num tempo de perturbação da ordem e da negação de tantos valores, ele exerceu em permanência a sua ação apostólica. São exemplos como este que nos devem nortear e que constituem o princípio basilar da solidariedade e amor cristão para com aqueles que nos rodeiam.