O padre John Hemer, missionário de Mill Hill, que se encontra em Roma para o doutoramento em Bíblia, partilha as suas impressões sobre a eleição do novo Papa, Bento XVI.
O padre John Hemer, missionário de Mill Hill, que se encontra em Roma para o doutoramento em Bíblia, partilha as suas impressões sobre a eleição do novo Papa, Bento XVI. Tenho que admitir a minha surpresa com a eleição do novo Papa. De acordo com as projecções, Ratzinger era o favorito, o que me levou pôr de lado a hipótese da sua escolha. Esperava um papa italiano, ou até um latino-americano.

Estou contente com a eleição. Ratzinger foi vítima de má publicidade, particularmente de congregações religiosas, como a de que faço parte. Muitos falaram dele, sem nunca terem lido uma única linha do que ele escreveu. Li muitos dos seus livros e acho-os muito bons e equilibrados, e ao mesmo tempo desafiantes.

João Paulo II tinha um passado de luta contra o comunismo absolutista ateu, o que deu cor à maneira como ele via o mundo e conduziu o seu papado. Bento XVI está muito mais envolvido na luta contra o relativismo ocidental e europeu, o que certamente marcará a maneira como vai conduzir o seu pontificado.

Ouvi a sua homilia no final da missa que celebrou com os cardeais na capela Sistina, depois da sua eleição. Salientou os seus propósitos e esperanças: compromisso com a verdade, promoção da dignidade de cada ser humano e, acima de tudo, a autêntica interpretação do Concilio Vaticano II.

Terá sido a interpretação do concilio que provocou o choque entre ele e outras pessoas no passado. Pode muito bem continuar a ser motivo de atrito. Fará grandes mudanças? Não. Penso que não. Ele era claramente um grande apoiante de João Paulo II e continuará muitas das suas linhas de acção. No entanto é diferente. Não o vejo em tantas e longas viagens. Talvez precisemos de um papa que fique mais em casa e cuide “do centro” mais de perto.

Que espero de Bento XVI? Espero que ele mostre constantemente Cristo e os seus ensinamentos ao mundo. Espero que ele consiga evitar uma maior polarização na Igreja e possa ouvir ambos os lados. O seu papel como líder da Congregação para a Doutrina e a Fé era o de guarda da fé, o cão de guarda do Vaticano, como chegou a ser chamado. O seu papel como papa é radicalmente diferente. Nas palavras do Senhor a Pedro: “apascenta as minhas ovelhas; cuida do meu rebanho” e “fortalece os teus irmãos. ”

Podemos esperar que ele enfrente este novo desafio de uma maneira diferente. O Papa, como sucessor de Pedro, é o missionário número um da Igreja, o primeiro a anunciar a ressurreição. Espero que o faça de maneira que fale aos homens de hoje. De maneira que seja atractivo e convincente, sem jogar com as multidões ou dizer o que todos esperam ouvir. Não penso que haja esse perigo.