Um trabalho absolutamente notável, onde se faz um levantamento da realidade em Portugal a partir de nove áreas: educação, saúde, saúde mental, Política, justiça, pobreza, medo, identidade e ego.
Um trabalho absolutamente notável, onde se faz um levantamento da realidade em Portugal a partir de nove áreas: educação, saúde, saúde mental, Política, justiça, pobreza, medo, identidade e ego. Onde é que nós lemos todos os meses esta afirmação não só em português, mas também em outras onze línguas? 5 de março foi um dia em cheio para todos nós. Para os que amam uma outra leitura do mundo, para os que buscam uma visão da realidade que não seja a reprodução maciça e mecânica das notícias produzidas pelos grandes agentes de informação que fazem das notícias um comercio como outro qualquer, onde o único critério válido é o do ganho económico. No seu aniversário dos vinte e dois anos, o «Público ofereceu gratuitamente aos seus leitores uma análise do estado da nação, realizada pelo filósofo José Gil. É um trabalho absolutamente notável, onde se faz um levantamento da realidade em Portugal a partir de nove áreas: educação, saúde, saúde mental, política, justiça, pobreza, medo, identidade e ego. aí são analisadas estas áreas a partir de um conjunto de perguntas que não têm respostas ou cuja resposta, no quadro atual onde nos movemos, é absolutamente insatisfatória. avulsamente, cito apenas algumas perguntas cuja respostas são claramente insuficientes: Quantos portugueses vivem ativamente a solidariedade social? Quantos pobres existem que não entram nos 1,8 milhões oficiais? Quantas crianças não comem quatro refeições diárias? Quantos portugueses se sentem representados pelos seus deputados? Quantas portugueses morrem por não serem atendidos a tempo?. Poderia continuar a colocar outro grupo de perguntas que fazem parte deste trabalho, sendo todas elas absolutamente pertinentes. Que sabemos sobre elas e as outras que fazem parte deste trabalho? Não são elas decisivas? Não são elas o elo giratório de um mundo novo que esbate na apatia e no culto do indiferentismo? Não são elas que nos podem dar novos horizontes no sentido de criar fios que nos ajudem a olhar para o mundo e perceber que cada notícia pode ser um acontecimento, uma novidade que nos coloca diante de uma realidade construtora de nós próprios? Hoje, a maior parte das notícias que recebemos já parecem vir cansadas de tanto as escutarmos. De tanto serem repetidas, do padrão ser de tal modo idêntico que não as sentimos como nossas e não geram uma dinâmica pessoal de descoberta. as grandes notícias, as verdadeiras notícias são uma abertura ao infinito. Que sabemos nós do mundo, da vida, do sofrimento dos outros, se aquilo que recebemos é uma mitigação da realidade? É assombroso o modo como as perguntas citadas nos questionam o que sabemos e que esse saber corresponda a uma visão inibidora do conhecimento da realidade. Talvez o que seja mais grave não seja a construção do desconhecido que estas perguntas provocam, mas antes o abandono e a repulsa que elas por si mesmas levantam. Só as grandes perguntas podem gratificar um tempo e abrir caminhos de novidade. Precisamos disso. «Djobe mundú do oto manêra. De outra visão do mundo. Que torne o coração dócil às grandes perguntas.