Importa colocar o dinheiro no lugar que lhe cabe. é um meio para atingir sociedades mais justas, onde não existam excluídos ou famílias que passam fome
Importa colocar o dinheiro no lugar que lhe cabe. é um meio para atingir sociedades mais justas, onde não existam excluídos ou famílias que passam fomeNão podeis servir a Deus e ao dinheiro, disse Jesus. E São Paulo avisou: a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por outro lado, com o Concílio Vaticano II, a Igreja deixou de desprezar os valores terrenos, como o dinheiro, o poder, o sexo e outros, valores que devem contribuir para uma vida pessoal e coletiva mais humana. Então, em que ficamos? Tudo depende da hierarquia dos valores. Por exemplo, o poder político é indispensável a uma sociedade organizada e pacífica. Sem ele, poderia cair-se no caos, onde os mais fortes esmagariam os mais fracos. Mas é reprovável a ambição do poder pelo poder, enquanto afirmação pessoal. Corretamente entendido, o poder é um serviço à comunidade.

Com o dinheiro passa-se o mesmo. Fazer do enriquecimento material o nosso grande objetivo é um pecado. Servir-se do dinheiro para que as pessoas vivam melhor é positivo. Na fase da crise atual, o dinheiro é essencial, desde logo, para criar emprego e para ajudar os mais desprotegidos. Dito isto, é forçoso reconhecer que o dinheiro adquiriu hoje uma importância exagerada. antes da Revolução Industrial, há dois séculos, o dinheiro não era encarado como fator de valorização social. Predominavam outros valores, não necessariamente mais éticos, como nascer numa família aristocrática.com o desenvolvimento do capitalismo, a riqueza material tornou-se o símbolo decisivo de status social. Hoje, pouco ou nada pesam os valores típicos de sociedades estratificadas, segundo critérios de nascimento, ou seja, de nobreza.

Importa colocar o dinheiro no lugar que lhe cabe. É um meio para atingir sociedades mais justas, onde não existam excluídos ou famílias que passam fome. Para tal é necessário combater tendências que se acentuaram nas últimas décadas. Uma delas é o consumismo, a tendência para procurar a felicidade na mera aquisição de bens materiais. Há como que uma tentativa de compensar frustrações de vária ordem, comprando coisas. Tenta-se esquecer um passado de pobreza. Trata-se de um engano promovido por uma publicidade que associa o ter a valores simbólicos de felicidade e posição social.

assim, há que fomentar outros estilos de vida, mais sóbrios e mais virados para o que é importante e que pouco tem a ver com dinheiro. O mercado tem limites. Nem tudo se compra e se vende. aí os cristãos são chamados a desempenhar um papel essencial, não pelo que dizem, mas pela maneira como vivem.com o colapso do comunismo, muitos passaram a agir como se não existissem normas morais na esfera económica: vale tudo para ganhar muito dinheiro e depressa. O setor financeiro – responsável, através do crédito, por boa parte da onda consumista – cresceu exageradamente nos últimos 20 anos, sobretudo nos Estados Unidos. E sem adequada regulação, levando à crise financeira global desencadeada pelo crédito hipotecário de alto risco. Tudo isto revela uma relação pouco saudável com o dinheiro. Será que a crise e a austeridade, que ela impõe, promoverão outra atitude face ao dinheiro? Oxalá! Mas não é certo.