O presidente da República fez este alerta em entrevista à TSF na passada quarta-feira. Referia-se concretamente a “um conjunto de pessoas, a que chamamos agora os novos pobres”
O presidente da República fez este alerta em entrevista à TSF na passada quarta-feira. Referia-se concretamente a “um conjunto de pessoas, a que chamamos agora os novos pobres”Não sendo uma afirmação susceptível de causar polémica, vinda de onde vem, a verdade é que parece não ter agradado ao atual Governo, que apesar de ser da mesma área política, tem outro sentido de austeridade e denota alguma dificuldade em impô-la com equidade. Embora seja apontado a este presidente alguma ambiguidade, como por exemplo ter pugnado pela aceitação deste tipo de plano já na governação de Sócrates, teremos que aceitar que as condições eram bem diferentes nessa ocasião. Cavaco Silva pretende alertar para algo muito simples: as medidas de austeridade que já estão implementadas, assim como aquelas que ainda faltam, devem ser mais justas e não recair exclusivamente sobre aqueles que têm mais dificuldade em se defender. E mencionou quais os novos pobres: “Reformados e pensionistas, mas também os micro empresários, as famílias que sofreram reduções abruptas do rendimento e que têm dificuldade em manter os filhos nas escolas ou nas creches e nas famílias endividadas”.
O contrato de empréstimo da troika (efetivamente trata-se de um empréstimo das organizações da União Eeuropeia ao país, mas se preferirem em linguagem política é ajuda financeira) assinado ainda pelo Governo de José Sócrates, tem clausulas específicas que são uma espécie de “garantia” de que Portugal pagará aquilo que receber, o que em nosso entender é perfeitamente natural. Se é certo que o empréstimo tem como finalidade a correção das contas públicas portuguesas, a forma de o conseguir passa pelo critério das entidades credoras, o que poderá dificultar os resultados se tivermos em conta o desconhecimento da realidade portuguesa já demonstrada pela União Europeia. Daí deriva a responsabilidade do Governo em funções de negociar com os credores as medidas mais acertadas para o país, mas que permitam alcançar os mesmos objetivos e para isso será necessário muito trabalho e invenção criativa dos governantes.

Há personalidades conceituadas, como por exemplo Paul Krugman, nobel da economia em 2008, que discordam da receita imposta pela Zona Euro baseada na austeridade para sair da crise. “alguma austeridade é inevitável”, admitiu, mas «insistir nela quando os resultados já não são positivos pode ser destrutivo, disse. O economista admitiu que os portugueses “vão ter de viver” com “condições muito difíceis e tentar mitigar o sofrimento”. Mas acrescentou: “Suponhamos que, daqui a um ano, o crescimento da economia fica abaixo do que está previsto no memorando de ajustamento e o défice fica acima. aí, se a troika pedir mais medidas de austeridade, Portugal tem de dizer que não, que não é viável. Uma coisa é dar algum tempo para que a atual estratégia funcione, outra é deixar quer se entre numa espiral de cada vez maior austeridade. É nessa altura que se tem de dizer não”.

Em relação ao desemprego verificamos que não está a ser atacado devidamente e é vital que o seja. a taxa de desemprego em Portugal referente ao mês de Janeiro passado, que foi divulgada pelo Eurostat esta semana, fixa em 14. 8 por cento ou seja 815 mil cidadãos sem trabalho (números oficiais, porque a realidade ultrapassa bastante este número), sendo que atinge sobretudo os mais jovens, pois um em cada três está desempregado. É o valor mais alto da Zona Euro e ultrapassa já a previsão do Governo para este ano. Uma palavra de aplauso para o programa de emprego jovem (Impulso Jovem) criado pelo Governo, com o apoio da União Europeia, e baseado na criação de “estágios profissionais”. Parece que o setor privilegiado para o combate ao desemprego juvenil será a agricultura, mas o plano entre Portugal e a Comissão Europeia prevê outras atividades. O programa deverá arrancar em Maio próximo.