Jorge Marengo, missionário da Consolata a trabalhar na Mongólia, conta para a Fátima Missionária a minoria católica e e a população em geral, de maioria budista, viveu a morte de João Paulo II.
Jorge Marengo, missionário da Consolata a trabalhar na Mongólia, conta para a Fátima Missionária a minoria católica e e a população em geral, de maioria budista, viveu a morte de João Paulo II. Os fiéis presentes em Roma, nas vésperas da morte de João Paulo II, sexta-feira, 1 de abril de 2005, eram mais numerosos que todos os habitantes da Mongólia.

Os jornais de Ulan Batur, capital da Mongólia, esforçaran-se para estarem actualizados, publicando artigos sobre João Paulo II.
Um dicionário mongol dos anos 60 define o catolicismo como “um ramo da Igreja ortodoxa da Rússia”. Nestes dias sucederam-se notícias e informações sobre a Igreja católica, mais ou menos correctas, que ampliaram o horizonte dos herdeiros de Gengis Khan.

Nesta ocasião, envolvidos na primeira pessoa, estiveram os 230 católicos de Ulan Batur. Nos bancos da escola ou no trabalho foram alvo de muitas perguntas: “Quem são os católicos? a igreja católica existe na Mongólia? Em que acreditam?”.

apesar do crescente envolvimento da Igreja católica em acções de ajuda e desenvolvimento, para a maioria os católicos são, no melhor dos casos, Khristiin Khumuus (pessoas de Cristo). alternativamente são apenas Gadaad Khumuus (estrangeiros).

a nossa pequena comunidade de missionários e missionárias da Consolata viveu estes dias com uma particular intensidade. No sábado, 2 de abril, chegavam a Ulan Batar numerosos serviços sobre o Papa através das cadeias de televisão estrangeiras. Percebemos bem depressa que a saúde do Papa se estava a deteriorar cada vez mais. Durante o jantar, partilhámos com uma colega da escola, uma jovem norueguesa luterana, a nossa apreensão pela saúde do Papa.

Foi só no domingo de manhã que soubemos pela televisão que João Paulo II tinha partido definitivamente deste mundo. Foi um momento de tristeza, mas também de paz, pela fé que até ao último momento nos guiou.

Tudo estava pronto para celebrar a missa na paróquia. O perfeito apostólico delegado, padre Carlos, missionário salesiano, devia presidir. Mas estava tão emocionado que foi substituí­do pelo pároco, padre Kim, um missionário coreano, que presidiu.com muito custo deu a notícia aos fiéis, convidando-os a rezar pelo Papa.

Diante do altar foi colocada uma fotografia do Papa, emoldurada pela khatag, uma faixa de seda azul que para a cultura mongol é sinónimo do sagrado. Diante da foto uma vela acesa e incenso. as pessoas mostravam viver intensamente este momento.

Durante a procissão das oferendas, que cada um deposita num cest em frente do altar, uma mulher do campo dirige-se com passo decidido para o altar e colca a sua oferta junto à foto do Papa, em vez de a colocar no cesto.com o seu gesto, quis significar com que carinho o Papa é recordado na Mongólia.

O perfeito apostólico delegado informou que, no dia seguinte, seria celebrada uma missa solene na catedral, precedida por três horas de orações espontâneas dos fiéis.

Na catedral estiveram presentes algumas pessoas do corpo diplomático, entre elas o embaixador polaco, representantes de outras confissões cristãs e de outras religiões. Também estiveram alguns monges budistas, religião predominante na Mongólia.

O bispo pronunciou palavras de reconhecimento e de admiração durante a homilia. No final da celebração o embaixador polaco expressou o seu pesar e manifestou o seu orgulho de ser concidadão do Papa. antes da bênção final, tendo cada um uma vela acesa na mão, escutou-se uma gravação da voz do Papa a recitar o salmo 26. Um momento tocante.

após a celebração, num salão da catedral, partilhou-se um lanche e foi projectado um documentário sobre o Papa. a oração continuou ao longo do dia na catedral, até às 10 da noite.

Na escola, que frequentamops diariamente para estudar a língua, o argumento das conversas nestes dias continua a ser o Papa. Os professores são budistas ou não-crentes e a maioria dos estudantes são protestantes. Todos falam do Papa.

Soubemos pela televisão que algumas personalidades políticas se dirigiram ao bispo para expressar as suas condolências.

No encontro semanal de catequistas decidiu-se envolver as pessoas à volta da figura do Papa. a projecção do vídeo do funeral suscitou muita atenção.

augustin, o responsável leigo da comunidade, explicou de um modo simples mas profundo o sentido de ser parte de um único corpo. Explicou também o sentido sagrado dos gestos e o significado existencial que está por detrás dos ritos, que eram apresentados, relacionando-os com a nossa pequena igreja situada no meio das fábricas de Ulan Batur.

a grande semana de luto pelo Papa terminos a 11 de abril, com uma celebração solene na catedral. No final da missa uma criança recitou uma poesia escrita por ela em honra do Papa.com lenços brancos na mão, todos acompanharam a procissão que levou uma imagem de João Paulo II da catedral para a capela. Foi o último acto de uma novena de oração que demonstrou como todas estas pessoas sentem a proximidade do Papa.

Foram dias de testemunho e de catequese: a vida do Papa era já uma provocação a seguir Cristo. a sua morte lança uma semente do Evangelho numa igreja missionária que se projecta no futuro.
Jorge Marengo, missionário da Consolata