«Quem tem ouvidos para ouvir, oiça» (Mt 11, 15; 13, 9; 13, 43; Mc 4, 9; 4, 23; 7, 16; Lc 8, 8; 14, 35). é uma frase que o Senhor deve ter dito muitas vezes, pois os evangelistas a citam repetidamente
«Quem tem ouvidos para ouvir, oiça» (Mt 11, 15; 13, 9; 13, 43; Mc 4, 9; 4, 23; 7, 16; Lc 8, 8; 14, 35). é uma frase que o Senhor deve ter dito muitas vezes, pois os evangelistas a citam repetidamenteSão João mais que todos: «Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas (ap 2, 7; 2, 11; 2, 17; 2, 29; 3, 6; 3, 13; 3, 22; 13, 9). Costumamos dirigir estas repreensões ao mundo, aos adversários da fé. afinal o nosso tempo é surdo aos ensinamentos, esquece os valores, ignora a Palavra. Ele é que precisa de ter ouvidos. Mas não é a esses que Jesus faz a recomendação. Quando fala com Caifás, Herodes, Pilatos não lhes censura a falta de audição e, nas discussões com os fariseus, não usa esta expressão. Sempre que aparece, está incluída em discursos às multidões ou ensinamentos aos apóstolos. Os problemas de audição só acontecem aos devotos. a sucessiva afirmação, em tom de aviso e censura, aponta para um mistério. Estando Jesus a dizê-lo aos que tinham ido especialmente ouvir as suas palavras e estavam a escutar, não podia referir-se aos infiéis. Não era para os hostis que falava, mas para nós, aqueles que, apesar de estarmos aqui, atendendo ao que está a ser dito, podemos não ter ouvidos para ouvir. Este é o terrível e incompreensível perigo que nos assola a todos: é possível saber tudo, cumprir tudo, atender a tudo, e, apesar disso, não escutar realmente o que é dito. É um mistério que espanta o próprio Cristo, que diz aos mais devotos, aos próprios apóstolos que escolhera e que o acompanhavam para todo o lado: «ainda não entendestes nem compreendestes? Tendes o vosso coração endurecido? (Mc 8, 17-18). a nós, que só podemos aspirar à proximidade dos evangelistas, o Senhor repete sucessivamente: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça. Mas temos que ouvir o quê? Que precisamos de escutar? Se vamos recorrentemente à igreja, se ouvimos as leituras e homilias, se meditamos a Palavra, se até discutimos teologia e lemos a Fátima Missionária, se fazemos tudo isso com empenho e atenção, o que é que temos mais que ouvir? «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me. (Mc 10, 21). Na relação com Jesus existem dois tipos de obstáculos. O primeiro é o daqueles que não ligam, não atendem. São os que recebem a semente à beira do caminho, vêm as aves e comem-na (cf. Mt 13, 4; Mc 4, 4; Lc 8, 5). Mas os mais patéticos são aqueles que, como nós, acolhem a Palavra com alegria, mas não têm raiz em si mesmos ou sofrem com os cuidados do mundo e a sedução da riqueza. (cf. Mt 13, 21-22; Mc 4, 17-19; Lc 8, 13-14). O resultado é o mesmo. Estes últimos são os que cumprem tudo, mas não vendem o que têm para seguir Jesus na vida que Ele escolheu para nós. aquilo que não ouvimos é que Deus tem ouvidos para ouvir. O que nos falta entender é que em cada passo da nossa vida o Senhor está à escuta, atenta e serenamente. No meio das tempestades da vida, gritamos por Ele, como se não ouvisse. E Ele acorda e diz: «Porque temeis, homens de pouca fé? (Mt 8, 26).