após dois anos com os Índios Yanomami, em Roraima, Brasil, Lí­gia Cipriano, 42 anos, leiga missionária da Consolata, exclama: «O meu coração ficou lá»
após dois anos com os Índios Yanomami, em Roraima, Brasil, Lí­gia Cipriano, 42 anos, leiga missionária da Consolata, exclama: «O meu coração ficou lá»

Teve que lidar com a diferença cultural e linguística. Dormiu em redes, tomou banho no rio e viu-se obrigada a cozinhar à fogueira. Esteve privada de eletricidade e de água canalizada. ainda assim, Lígia Cipriano, natural de Sepins, Cantanhede, não tem dúvidas: foram os dois melhores anos da minha vida. Enviada em 2010 para a missão Catrimani, em pleno coração da amazónia brasileira, a missionária começou por sentir algumas dificuldades em relacionar-se como os yanomami por causa do idioma e das diferenças culturais. agora, que regressou a Portugal, é com orgulho que diz ter ultrapassado todas essas barreiras, pois aprendeu a compreender o dialeto e conseguiu até memorizar algumas das expressões usadas no dia a dia. O envolvimento foi tão grande que o objetivo é voltar. Quero voltar à missão, diz perentoriamente. E a sua preferência é pela missão com este povo. Depois da adaptação, de conhecer uma nova cultura, gostaria de voltar para lá, sublinha. E acrescenta: Foi uma graça que Deus me deu, ir para a área Yanomami, para a missão mais especial que existe. Lá não há batismos, sacramentos, comunhões, mas o estar com um povo e respeitar a sua cultura, explica. Dormir na rede, tomar banho no rio, cozinhar à fogueira foram algumas das diferenças que encontrou. Não ter luz elétrica ou água é a coisa mais fácil, ou seja, a menor das preocupações. aliás, não ter eletricidade não impedia de visitar as famílias na maloca, à luz da lanterna. Havia mais conversa e presença, o que faz falta na nossa sociedade, mesmo que isso signifique apenas, estar com a pessoa. a vida com os Yanomami é muito familiar. a casa é comunitária, como o são as festas ou as decisões.com eles aprende-se o pão nosso de cada dia. Preocupam-se apenas com a sobrevivência. Os Yanomami ensinam que precisamos de pouco para sermos felizes. aliás, se há lugar onde a nossa presença é consoladora é ali, realça Lígia Cipriano. a missionária partilhou os últimos dois anos numa missão que existe desde 1965, acompanhada de dois padres e quatro religiosas da Consolata, sendo a única leiga no terreno. a visita às malocas, o acompanhamento dos cursos que a equipa missionária fazia e a digitação de cartilhas em dialeto yanomami foram algumas das tarefas em que participou. Lígia Cipriano entrou para a comunidade do norte dos Leigos Missionários da Consolata, depois de uma passagem pelo grupo de reflexão allamano, em 2007.