“Fortalecei-nos, Senhor, com o alimento interior da vossa palavra”, reza-se no segundo domingo de Quaresma
“Fortalecei-nos, Senhor, com o alimento interior da vossa palavra”, reza-se no segundo domingo de QuaresmaSerá lógico celebrarmos durante a Quaresma, que é um tempo de penitência, a gloriosa transfiguração do Senhor Jesus no monte Tabor, diante de três dos seus discípulos, como fazemos na liturgia do segundo domingo de Quaresma? Sim, é muito lógico. a Quaresma é um tempo durante o qual nós mesmos nos deveríamos transfigurar, tornarmo-nos mais como Cristo, por meio duma vida cristã mais séria. Quaresma é tempo para reorganizarmos a nossa vida, segundo as exigências do Evangelho. À guisa de comparação, é assim como o dono duma empresa que tem de examinar as andanças dos seus negócios, se ganha muito ou pouco, se perde pouco ou muito. Reorganizar, decidir e mudar o que for necessário para não entrar em crise, como está a acontecer a vários povos, acarretando muita dor, especialmente àqueles que vivem nos degraus mais baixos da escala económica. Lá pela minha terra, dizia o povo que não era normal pôr a carro adiante dos bois: cada coisa no seu lugar, para não haver surpresas más. Ora na nossa vida de cristãos, a vida a que Deus nos chamou desde toda a eternidade, oferece-nos Cristo a ordem das prioridades da nossa vida cristã. Importante, como para a árvore a raiz, diz Cristo: a vida eterna consiste em conhecer a Deus como único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo que Deus (Pai) enviou (João 17,3). Segue imediatamente a outra palavra de Jesus: arrependei-vos e acreditai no Evangelho (Marcos 1,15). Grande programa para a nossa Quaresma! E lá vem ele, o mandamento de Cristo: Ide por todo o mundo, fazei discípulos de todos os povos, ensinando-lhes tudo o que vos mandei e batizando-os (Mateus 28,19). Uma vez que alguém conhece o Deus cheio de amor universal, é natural que este amor se torne amor universal no cristão, isto é, amor a todos os irmãos e irmãs, amor de coração e de ações. E assim, o homem, a mulher, a criança transfiguram-se à imagem de Jesus Cristo Senhor que tem de ser o centro da vida para todo o cristão. Se olharmos atentamente para o que acontece por esse mundo além, é belo ver tantos discípulos que aceitam o chamamento e o envio de Cristo e da Igreja. E lá vão pelo mundo inteiro, pelas fronteiras da Igreja além, como seus mensageiros evangelizadores. Levam a missão no coração e nos lábios e, como Paulo, tudo fazem pelo evangelho (1 Cor 9,23). Nas missões e na missão aqui nas nossas terras, muitos acreditam concretamente na palavra de Paulo: ai de mim se não evangelizar! (1 Cor 9,16). Evangelizam e unem-se aos evangelizadores de lá longe: no coração destes discípulos de Cristo há lugar para o mundo inteiro. E mais fosse! São fermento verdadeiro e luz de Cristo a brilhar nas trevas e no lusco-fusco da humanidade. Vemo-los a dar catequese, proclamar a Palavra nas liturgias, visitar doentes, levar o Senhor Fora aos imobilizados, visitar os tristes, os presos, ajudar os mais necessitados. São represas e canais a levar a água da vida à humanidade ressequida. O bater dos seus corações e o hálito da sua fé abraçam o mundo inteiro. Formam uma Quaresma viva e ambulante, a semear alegrias onde brotam tristezas e a endireitar caminhos tortuosos. Vivem Cristo e movem-se na dança do amor que faz da vida na terra uma vida eterna. Por Jesus Cristo, nosso Senhor!