assumir o que são e afirmar o valor das coisas que lhes parecem adequadas é um dos grandes problemas dos jovens de hoje. Existe uma tremenda dificuldade em se expor, em revelar-se nos seus múltiplos gestos
assumir o que são e afirmar o valor das coisas que lhes parecem adequadas é um dos grandes problemas dos jovens de hoje. Existe uma tremenda dificuldade em se expor, em revelar-se nos seus múltiplos gestosMuitos jovens de hoje têm um medo assombroso da realidade, de assumir os contornos de um mundo hostil que começa em casa e se desenvolve nos liceus e na procura do primeiro emprego. a realidade parece muitas vezes simpática, apresenta-se quase acolhedora nas formas como coloca o sujeito diante de um mundo aprazível. Pensemos na tecnologia, nas suas novas formas, no anel dourado que cinge tudo em torno de si. Existe no mundo um manancial de probabilidades que esgotam toda a capacidade de afirmação do que quer que seja. É indesmentível que dispomos de uma diversidade de conhecimentos e conteúdos que eram improváveis há 20 anos. Mas isso implicará, para os grandes consumidores das novas tecnologias, da net, das redes sociais e dos tablets, uma capacidade de se entroncar naquilo que é essencial na vida? Onde está o assumir daquilo que afirma a motivação da pessoa e a faz deslizar para as realizações dos seus atos vocacionais?Um medo terrível de cada um falar de si afirma, hoje, o terror da incompreensão.como me posso expor, dizer o que posso ser se existe uma rejeição original por tudo o que não pertença à minha realidade? Quem me compreende se a minha realidade é só minha, quase intransmissível? Milhares de crianças do primeiro ciclo, de seis ou sete anos, de adolescentes do segundo e terceiro ciclos, passam as tardes sozinhas em casa. Os pais estão fora, muitos vivem em situações de divórcio, sem alguém do núcleo familiar alargado ou próximo que possa acompanhar os filhos. São dias, semanas, meses, em que não se confrontam com qualquer tipo de realidade. abandonados, quase não comunicam, não estabelecem elos de relação além dos elos criados pelas redes sociais. Os pais protegem-nos, mas é uma proteção artificial. Falta o fundamental: a relação, o envolvimento, a partilha, a disponibilidade ao outro e a afirmação de modos diversos de agir. Há um mundo artificial que os impede de explorar as suas riquezas interiores. Muitos jovens não sabem falar das suas experiências, porque elas já quase não existem. Que experiência posso cultivar se não tenho a mínima noção de que pode haver uma interação entre mim e algo que me é exterior? Hoje, muitos jovens não sabem chorar, rir, partilhar, dizer o que quer que seja da sua vida. Habita-os um medo terrível, o sofrimento sufoca qualquer aventura fora deles. Não sabem partilhar, vivem assombrados com tudo o que está para além do ecrã do computador. O mundo, as pessoas, o encontro, o acolhimento, são uma miragem, uma exterioridade que somente causa fadiga. Constroem um mundo onde as raízes já estão decepadas à nascença.