Cristo mostra a sua compaixão por um leproso e cura-o da sua doença. Lepras há muitas. Há-as sempre onde há falta de boa vontade e de irmandade
Cristo mostra a sua compaixão por um leproso e cura-o da sua doença. Lepras há muitas. Há-as sempre onde há falta de boa vontade e de irmandadeParece que ainda estou a vê-la. Encontrava-me eu de visita a um centro para leprosos, num país da américa do Sul. Era um centro construindo por um missionário da Consolata. Quando visitava a capela do centro, acompanhava-me a sacristã, uma das doentes que ali viviam. O seu sorriso explicava a alegria que morava no seu coração. Gesticulava com as mãos, a que a doença roubara a maior parte dos dedos. Ficara só com três ou quatro cotozitos com que, milagrosamente, conseguia ela fazer muitas coisas. andava pelos 45 anos e partilhava comigo pinceladas fortes da sua vida. Nascida numa família abastada, foi abandonada quando descobriram que ela tinha aquela doença terrível da lepra. Vagabundeou por muitas terras. Foi violada, vezes sem conta, e dessas violações nasceram oito criancinhas que lhe foram tiradas pelas autoridades por ser ela leprosa. Finalmente, chegou a este centro, onde os leprosos eram tratados como verdadeiros seres humanos e como irmãos e irmãs numa família. Dizia-me ela: Sou feliz! Como sacristã da capela, tenho a oportunidade de servir a Deus e ao próximo. Quantas vezes ouvimos dizer, e dizemos, que somos todos irmãos e irmãs em Cristo. E sentimos dentro de nós essa verdade. Mas na prática surgem, por vezes outras, verdades que se sobrepõem a este mandamento primário do amor fraterno. Quantas discriminações pelas nossas terras! Discriminações raciais, económicas, culturais, políticas, de estatura ou posição social e económica. Desacatos, greves, manifestações de todo o género só porque o partido no governo não é aquele a que se pertence ideologicamente, mesmo sabendo que estas manifestações prejudicam imensamente, se não destroem mesmo, a possibilidade de resolver as crises que muito fazem sofrer tantos cidadãos. No evangelho de hoje Cristo mostra a sua compaixão por um leproso e cura-o da sua doença. Lepras há muitas, há-as sempre onde há falta de boa vontade e de irmandade. Às vezes não é fácil colocarmos os mandamentos da Lei de Deus, quer dizer os mandamentos da religião, do respeito, do amor e da entreajuda, adiante das nossas egoísmos e idiossincrasias. Em todo o ser humano há um pouco de adão ou de Eva que usurpam a Deus o direito a definir o que é bem e o que é mal. Do outro lado da moeda, há cidadãos que o são cem por cento, que não atraiçoaram o bem do povo e da pátria, que, mesmo com dificuldades, partilham as suas coisas e a sua benquerença com os mais desfavorecidos e necessitados. E que o fazem cheios de esperança e alegria, como convida o salmo responsorial da missa de hoje ao dizer: alegrai-vos, justos, alegrai-vos no Senhor, vós os de coração reto!. Quanto às nossas lepras ou pontos negativos, não podemos esquecer que, como no evangelho de hoje, o Senhor Jesus está sempre pronto a compadecer-se de nós, a estender a sua mão para nos tocar e nos curar. E todo o que n’Ele acredita, tem a vida eterna, como nos diz o cântico da comunhão.