a família está a perder de vista a sua verdadeira missão que é: ser uma escola de virtudes. a nossa sociedade atual é fruto da ausência desses e de outros valores importantes que são menosprezados
a família está a perder de vista a sua verdadeira missão que é: ser uma escola de virtudes. a nossa sociedade atual é fruto da ausência desses e de outros valores importantes que são menosprezadosNa semana que findou foram divulgados números do Instituto Nacional de Estatística (INE) em relação aos portugueses residentes idosos, com 65 anos ou mais, que vivem sozinhos ou com outra pessoa de idade. Segundo o INE são um milhão e duzentos mil idosos (19% da população) que estão nessas condições, ou seja, seis em cada dez vivem dessa forma. Destes, estão completamente sós cerca de 400 mil pessoas, de acordo com o último Censos de 2011 daquele instituto. São números assustadores e com tendência para aumentar, tendo em conta “o aumento da esperança média de vida, a desertificação e a transformação do papel da família nas sociedades modernas” segundo o INE. a solidão é um problema. Somos uma sociedade egoísta e não há respostas na comunidade que sejam alternativas adequadas. Como é evidente, é necessário alterar a forma como a sociedade encara, ou não, este problema que constitui o crescente número de casos de idosos que não têm uma vida com dignidade e por vezes, devido à sua solidão, morrem esquecidos por todos. a PSP revelou em notícia recente que quase 2. 900 idosos foram encontrados mortos em casa no ano de 2011, a maioria em Lisboa. Outrora os pais que cuidavam dos filhos eram retribuídos por estes na sua velhice, mas a sociedade evoluiu e com ela vieram boas e más práticas, hoje é quase o inverso, são os pais e os avós que continuam a cuidar dos filhos e netos, mesmo ficando sós. Na falta dos valores familiares que se verificam atualmente só há dois caminhos a seguir: retomar, dentro do possível, esses princípios ou encontrar novas formas para amparar aqueles que já exerceram o seu papel na sociedade e agora precisam dos outros.
Se analisarmos o grau etário da população portuguesa, constatamos que há 129 idosos para 100 jovens, o que nos deve preocupar seriamente não apenas pelo envelhecimento da população, algo normal em função dos cuidados de saúde e outros que têm, mas sobretudo pela ausência de renovação geracional. Há cerca de oito anos surgiu no Porto uma troca de apoios incentivada ao abrigo do Programa aconchegos, promovido em parceria entre a Fundação Porto Social e FaP Social e destinada a seniores com mais de 60 anos residentes na cidade Invicta. Este programa assente numa perspetiva intergeracional, de combate à solidão e isolamento dos seniores já permitiu que 166 idosos e estudantes passassem a morar juntos. Os rapazes e raparigas são acolhidos em casa de uma pessoa de idade que viva na cidade, contribuindo apenas com uns simbólicos 25 euros para ajudar nos gastos com água e eletricidade. Em troca, fazem-lhe companhia e comprometem-se a ajudá-lo em caso de emergência. Na opinião do sociólogo Villaverde Cabral anúncios ou projetos como estes podem ser uma solução pontual para quem vive sozinho e sem apoios, mas não resolvem o problema de fundo. a descoberta de idosos mortos em casa é uma manifestação perversa do envelhecimento da população portuguesa, para o qual falta uma política integrada, diz o diretor do Instituto do Envelhecimento. Deve ser criada uma Secretaria de Estado dedicada à terceira idade, que defina uma política e objetivos e os articule no terreno, aproveitando entidades já existentes, acrescenta. a criação de uma Secretaria de Estado, como defende aquele sociólogo, poderia ser um passo importante para ajudar na procura de soluções, mas o essencial será a retoma das práticas que outrora foram tão úteis e sadias: o amor na família. Se tal acontecer, poderemos acreditar no desenvolvimento de uma sociedade mais justa.