“Louvai o Senhor que salva os corações dilacerados”, canta o refrão do salmo responsorial da liturgia eucarística

“Louvai o Senhor que salva os corações dilacerados”, canta o refrão do salmo responsorial da liturgia eucarística
Passava eu, às vezes, 24 horas a fio como capelão suplente num grande hospital. Uma noite, entre vários doentes, trouxeram uma senhora que sofrera há pouco um ataque de coração. Médicos e enfermeiras acercaram-se dela na zona das urgências do hospital.como capelão, administrei-lhe a Unção dos Doentes. Uma lágrima correu devagar pela face direita da enferma. Disse-me uma enfermeira: Já não há nada a fazer. Muitas vezes, o último gesto antes de morrer é chorar uma lágrima de adeus à vida aqui na terra. Um dos problemas mais difíceis de compreender para o ser humano é o problema da dor. É mesmo humanamente natural perguntar: Porque é que Deus infinitamente bom deixa que tantos seus filhos e filhas sofram?. Job, na primeira leitura, sofreu este problema da dor em todo o seu ser físico, moral e espiritual. ao fim concluiu ele, com grande optimismo: Com os meus próprios olhos, verei o meu Redentor!. O problema da dor não é fácil. De facto, só por meio da fé na Palavra de Deus se pode entrar no âmago da compreensão da dor. Sempre, mas especialmente nos momentos de crise, é bom recolhermo-nos na convicção certa de que Deus é essencialmente compaixão para com a humanidade, particularmente a humanidade sofredora. E Cristo, seu Filho Unigénito, é para nós a compaixão de Deus. Convença-nos e console-nos a Palavra de Deus. Especialmente em tempos de crise, em que tantas pessoas desesperam para encontrar soluções, há outra conclusão absoluta. Na nossa terra, muitos indivíduos tornaram-se compaixão de Deus para com os seus próximos. É consolador ver o que tantos fazem para aliviar as penas dos que sofrem. Para o cristão, como diz o Espírito por meio de São Paulo, os dons ou qualidades que recebemos de Deus não são só para nosso uso pessoal. São para o bem da comunidade, especialmente daqueles que mais precisam deles. Às vezes, um sorriso vai longe no deitar bálsamo numa ferida. Ou uma palavra ou gesto amigo. Infelizmente, há gente e organizações que, durante a crise, dão a impressão de agir para separar, desunir a família nacional a que pertencemos. Em todos a consciência deveria gritar: Sejamos todos um; unidos venceremos. Quem separa, separa-se.como no Evangelho de hoje, Jesus há-de inspirar-nos a cura de muita coisa.como indivíduos e como povo, poderemos então cantar vitória pela nossa maravilha e pelas maravilhas do Senhor.