Manuel está esquecido de si e do mundo que o rodeia. Joga xadrez on-line e a sua perí­cia enche-o de orgulho. Hoje está a ganhar a um francês e a um russo. Quando está on-line sente-se inteligente, poderoso e admirado
Manuel está esquecido de si e do mundo que o rodeia. Joga xadrez on-line e a sua perí­cia enche-o de orgulho. Hoje está a ganhar a um francês e a um russo. Quando está on-line sente-se inteligente, poderoso e admirado- Vem almoçar, Manuel! Já estamos à mesa. Mas Manuel não vem. Tal como não veio ontem, anteontem, nem Não é só ao almoço em família que Manuel falta. Também se esquiva das aulas nas disciplinas em que é repetente. Falta, porque é-lhe insuportável sentir o fracasso. Então, foge de tudo o que possa confrontá-lo com isso mesmo. Fecha-se no quarto, sem ter de pensar ou falar sobre si ou sobre o seu modo de vida. aí, on-line ou na TV, experimenta a ser vencedor, esquecendo-se do tempo e da vida. a mãe e o pai não o deixam nesta tranquilidade. Sentaram-se ambos na sua cama e convidaram-no a fazer o mesmo. aí, relembraram-lhe a sua história, desde o princípio, as suas graças, os sonhos de menino, o seu dom de encher a casa, o dinamismo que imprimia e as gargalhadas de felicidade que contagiavam. Este foi o retrato que ele lhes ofereceu ao longo de 20 anos. Não precisaram de falar na recente falta aos encontros com amigos, na anulação de compromissos, no evitamento de tudo o que possa confrontá-lo com alguma das suas dificuldades. Só lhe garantiram:- Filho, vamos até onde for preciso para te ajudar. Este não é o teu jeito de viver. Não é o teu lugar na história. Não sabemos ajudar-te a vencer estes teus medos. Precisas de ajuda. Nós também precisamos, para podermos acompanhar-te. Vamos encontrá-la! Manuel olhou-os.como podia ter-se esquecido do aconchego do amor dos pais? Tranquilizou. afinal, eles não o culpavam. até o entendiam. Devolveram-lhe um Manuel bonito que ele tinha esquecido. Perceberam que, talvez, ele não estivesse preparado para os insucessos e teve-os. Não se perdoou e, por isso, escondeu-se. Mas, escondendo-se, não os resolveu. Pelo contrário, os problemas avolumaram-se. Só hoje Manuel viu o espaço que decidiu ocupar. Encarou a vergonha, mas também a esperança. Ninguém o culpou, só ele mesmo. a sua história estava lá, fora do quarto e dentro de si, à sua espera. Era tempo de ir construí-la, no mundo real, feita de fracassos e de conquistas e com aquilo que o salvou: muito amor!