Bento XVI aceita a renúncia do bispo da Beira, Jaime Pedro GonçAlves ao governo pastoral da arquidiocese moçambicana. João Carlos Hatoa Nunes, bispo auxiliar de Maputo, é nomeado administrador apostólico para substituir o prelado que completou 75 anos
Bento XVI aceita a renúncia do bispo da Beira, Jaime Pedro GonçAlves ao governo pastoral da arquidiocese moçambicana. João Carlos Hatoa Nunes, bispo auxiliar de Maputo, é nomeado administrador apostólico para substituir o prelado que completou 75 anosO último bispo moçambicano criado logo após a independência cessa funções. Nos últimos anos, os colegas de Jaime GonçAlves, que substituíram os bispos portugueses, foram resignando um a um. Nomeado ainda muito jovem,em 1976, de entre o clero diocesano, o bispo resignatário da Beira muito cedo assumiu protagonismo na Igreja católica moçambicana e africana. Foi presidente da Conferência Episcopal de Moçambique, de Outubro de 1976 até Dezembro de 1986; presidente da Comissão de Justiça e Paz e da Cáritas; e, ainda, presidente da IMBIS a (associação dos bispos da África austral). Em 1978, foi eleito vice-presidente do SECaM (Simpósio dos Bispos de África e Madagáscar). Foi um dos secretários gerais do primeiro sínodo africano, realizado em Roma em 1994. a sua acção episcopal não se limitou ao campo da pastoral. Desde muito cedo teve uma intervenção social muito corajosa e fecunda, sobretudo durante o período da revolução marxista-leninista e nos anos da guerra civil. Em todas as partes, é considerado e reconhecido como um dos protagonistas do processo de paz de Moçambique. Já em 1982, num encontro entre o governo e as confissões religiosas, Jaime GonçAlves teve a coragem de se manifestar, em nome dos bispos de Moçambique, contra a violência no país, propondo o diálogo entre todos os moçambicanos, como caminho para uma solução de paz para o conflito que estava apenas no seu início. O seu apelo não foi bem recebido pelo governo e a guerra continuou a alastrar por todo o país, provocando morte e destruição. Num contexto em que o governo moçambicano defendia a linha dura contra a Resistência Nacional Moçambicana (RENaMO), excluindo qualquer tipo de diálogo, Jaime GonçAlves, por sua conta e risco, estabelece contactos com a RENaMO. a sua viagem secreta à Gorongosa, base central da guerrilha, em 1988, constituiu um dos momentos mais importantes do processo de busca de paz para Moçambique, marcando uma viragem no próprio processo, pois confirmou que o diálogo com o movimento de resistência era possível. Graças a Jaime GonçAlves, começaram a desenvolver-se contactos entre a RENaMO e a Comunidade de Santo Egídio, que levaria à mediação italiana e aos acordos de paz. O arcebispo da Beira foi um mediador determinante nas negociações de Roma, que conduziram ao acordo Geral de Paz, de 4 de Outubro de 1992. a arquidiocese da Beira, uma das mais importantes dioceses moçambicanas, passa a ser administrada, em nome do Papa, por um administrador apostólico, João Carlos Hatoa Nunes. O mais jovem bispo moçambicano, actualmente auxiliar de Maputo, é natural da Beira. Nesta passagem de testemunho, de um velho embondeiro, cheio de vivências e activismo, abre-se um espaço de reflexão à própria Santa Sé, que irá desenvolver um trabalho de consulta para a escolha de um novo arcebispo da Beira que possa ser herdeiro, continuador e renovador da acção de Jaime GonçAlves.