O processo de beatificação da Irmã Lúcia é inevitável: Serafim Ferreira e Silva, bispo de Leiria-Fátima, em entrevista exclusiva à Fátima Missionária.
O processo de beatificação da Irmã Lúcia é inevitável: Serafim Ferreira e Silva, bispo de Leiria-Fátima, em entrevista exclusiva à Fátima Missionária. Serafim Ferreira e Silva tem esperança que o processo de canonização dos dois videntes se concretize. aguarda serenamente pelo desfecho deste processo e afirma que é inevitável a abertura do processo de beatificação da última vidente, Lúcia.

Fátima Missionária: é uma pessoa extremamente ligada a Fátima. Neste momento como é que está o processo de canonização dos videntes?

SERaFIM FERREIR a SILVa: O processo para a canonização de Francisco e da Jacinta está em bom andamento. Em 19 de Fevereiro, véspera da festa litúrgica do Francisco e da Jacinta Marto, a chamada “positio” – que é já a condensação de todo o processo final para entregar ao júri dos cardeais e ao júri dos médicos – foi entregue.

Há ecos não fora do contexto, mas dentro da legitimidade da causa, que tudo está em bom andamento. O Papa João Paulo II muito provavelmente gostaria de canonizar Francisco e Jacinta. São duas crianças e o mundo infantil hoje tem muitas agressões, muitas violências, muitas carências. Tem muitas limitações. Hoje, por exemplo, há milhares de crianças que morrem à fome, que são violadas, que são agredidas.

O Francisco e a Jacinta podem ser duas bandeiras para todo o mundo. Mesmo que não falem português, mesmo que não saibam quem foram o Francisco e a Jacinta no seu percurso e na sua história. a força de uma criança que foi reconhecida como ponto de referência ajuda a criança a tomar conhecimento de si e ajuda os mais velhos a respeitar mais uma criança indefesa, que ainda não caminha ou que tem dificuldades, limitações.

Eu julgo que é esse o grande desafio o grande programa para a canonização das duas crianças, que são as duas primeiras crianças na história a serem canonizadas. Para mim é muito significativo.

Instituir o ano dos direitos da criança, é um blá, blá que fica estéril. ao passo que fazer as coisas paulatinamente, no terreno, na ordem do ser mais do que na ordem do fazer, vale mais. Oxalá que dentro de alguns anos as crianças sejam mais acolhidas. Há muitas crianças órfãs de pais vivos. Há muitas, milhares de crianças vítimas da sida dos pais. Não apenas porque contraí­ram biologicamente esse mal, mas ou perderam os pais, ou muitas outras causas adminiculares, quer dizer que fazem parte deste conjunto.

Entendo que a canonização das duas crianças, além do fascí­nio, da simpatia de duas crianças que não eram burrinhas, que não eram estúpidas. Não tinham, cultura universitária, não aprenderam a manusear o computador, não tiveram dinheiro para comprar um chupa-chupa, tiveram muitas limitações no tempo da guerra. Mas procuraram ser generosas e corajosas.

Julgo que a biografia das duas crianças seduz, fascina, atrai. Verifico que fora de Portugal há um carinho muito grande pelo Francisquinho e pela Jacintinha. O mundo eclesial, seja dos bispos, dos padres, dos leigos, é a favor da canonização destas duas crianças. Sei que o Papa gostava muito de ser ele a fazer este acto da canonização.

FM: João Paulo II irá canonizar os videntes?

SFS: O Papa tem um mal incurável. é a velhice, a soma dos anos. Isso não perdoa e, como regra, Deus não faz milagres, respeita a ordem da natureza. O Papa está muito envelhecido, está muito alquebrado fisicamente. a doença de Parkinson começou de cima para baixo. Vai limitar-lhe a capacidade de comunicar oralmente, a capacidade de se manifestar. Já lhe custa andar. Tudo isso vai limitar muito. E se o processo estiver pronto dentro de alguns meses, não sei. Deus saberá.

FM: Podemos ter esperança que ainda seja este ano a canonização?

SFS: a esperança não paga imposto, nem se compra no supermercado. Tenho alguma esperança. Não sou demasiado optimista, muito menos tipo comerciante a insistir. Não. Respeito as condições e as pessoas. aguardo. Seja o que Deus quiser.com muita sinceridade o digo. Não como o povo diz de uma maneira fatalista. Não. Eu digo com toda a sinceridade, ou se quiser com toda a cordialidade: Seja o que Deus quiser.

FM: O processo da irmã Lúcia vai ser aberto?

SFS: Sabe, o processo da Irmã Lúcia para a canonização é quase inevitável. Mas não vamos ter pressa. Em rigor canónico, deveria esperar-se cinco anos. Mas nada impede que se comece antes, porque o Papa pode dispensar o chamado timing.

além disso a Irmã Lúcia tem muitas coisas escritas. Isso vai aumentar o volume do processo, como vai dificultar a leitura. Obriga a que o júri respectivo analise todo o conteúdo doutrinal. Pode haver imperfeições teológicas. Isso vai retardar. Eu não vou ter pressa porque a Irmã Lúcia o que tinha a fazer fez, o que tinha a dizer disse. O testemunho que tinha a dar, deu. Foi fiel; foi corajosa.

a personalidade de uma monja de clausura, para mim, tem menos força social e eclesial que um Francisco e uma Jacinta. Terei mais pressa e mais gosto – como um poema que eu gostaria ainda de tornar público – de ver nos altares de todo o mundo uma rapariga chamada Jacintinha e um rapazinho chamado Francisco. Não tenho nada a opor que no altar esteja também a Irmã Lúcia ou a santa Lúcia de Jesus. Nada a opor. Mas não se pode ter tanta pressa.