Nova etapa: Serafim Ferreira e Silva, bispo de Leiria-Fátima, em entrevista exclusiva à Fátima Missionária.
Nova etapa: Serafim Ferreira e Silva, bispo de Leiria-Fátima, em entrevista exclusiva à Fátima Missionária. a 16 de Junho, data em que completa 75 anos, o bispo da diocese de Leiria-Fátima apresentará o pedido de resignação, ou seja, pedirá que seja nomeado um sucessor. Livre do governo da diocese, quer ocupar o tempo a ler, meditar, contemplar e a ouvir as pessoas. Garante o prelado que vai prestar um outro contributo cívico e eclesial

FíTIM a MSSIONíRI a (FM): O que vai fazer depois da resignação?

SERaFIM FERREIR a E SILV a (SFS): O futuro a Deus pertence, mas eu não quero ficar à janela a ver o que Ele vai fazer. é evidente que tenho um património, que tenho um compromisso, que pertenço a uma Igreja que é una, mas muito plural.

Entendo que, perfazendo os 75 anos de vida, tenho o direito de pedir um tempo de pausa para poder envelhecer mais serenamente, para poder escrever, poder escrever as minhas memórias. O meu objectivo é de, quando passar à situação de emérito, ter tempo para contemplar, para meditar, para ler, para ouvir as pessoas e, eventualmente, escrever algumas coisas. Mas não vou ficar no armazém.

Tenciono estar na vida cí­vica e eclesial. Porquê? antes de ser cristão, já era cidadão. Não posso divorciar-me do que se passa na rua ou no estádio de futebol, ou na discoteca. Tenho de ver esse conjunto. E, se puder dar um contributo não apenas no falar, porque isso não paga imposto, mas mesmo com a carteira, isso pode ser uma maneira mais visí­vel, mais imediata.

O que vai ser o meu futuro não sei bem, mas tenciono continuar a viver nesta diocese, provavelmente no santuário de Fátima, e dar o meu contributo eclesial e de cidadania, o mais possível.

FM: Vai entregar ao seu sucessor a inauguração da nova basílica. Que mais lhe vai entregar?

SFS: Tudo. Estou a ver se lhe deixo o menos possível de problemas. Há alguns problemas que estou a tentar resolver para não deixar ao meu sucessor. Coisas complicadas. Isso faço com toda a sinceridade, com toda a amizade. Mas não sou Deus. O que não puder resolver, entrego com toda a clareza e, ao mesmo tempo, com toda a ajuda possível.

FM: Que qualidades é que gostaria de ver no seu sucessor?

SFS: Que seja mais novo, que seja mais inteligente, que seja mais santo. E basta. a paciência, a colaboração faz parte do bom senso.

FM: Quando é que pedirá a resignação?

SFS: Quando fizer 75 anos. No mesmo dia, já preveni, farei o requerimento.

FM: é conhecido como “bispo da cordialidade”. é assim que gostaria de ser recordado?

SFS: Não faço investimento nesse sentido. Mediático. Não tenho marketing. Procuro ser sincero e não oculto os meus pés de barro. O meu segredo e o meu programa é ser sincero. Se tiver alguma coisa a dizer, digo com coragem, ainda que tenha de tomar pastilhas de fortaleza para dizer.

ainda esta manhã tive de dizer alguma coisa dura. Mas com muita sinceridade. a cordialidade não é um arranjismo. Tem de haver verdade. Julgo que isso é vital. O equilibrismo é um pouco farisaico. Não quero a mentira. Deito isso ao caixote do lixo. Quero ser sincero, mas na minha humildade, na minha ignorância, nas minhas limitações. Se falo em cordialidade, tenho obrigação de respeitar toda a gente. Seja o bêbado incómodo, seja quem for.

ainda há dias, viajava para Leiria e vi um senhor caí­do, fui ajudar e ele disse: «ó senhor Bispo, eu não me aleijei; estou bem. Estou é bêbado!». Fui cordial com ele. Entretanto alguém veio e disse: «Pode ir, que nós tratamos dele». a cordialidade é o sentido dos outros. Não é nada de santidade a mais. é o sentido dos outros.