Em tempos de crise, preocupações ambientais tendem a ser secundarizadas, mas nem negociador nem diplomacia conseguirão minorar o peso da fatura climática
Em tempos de crise, preocupações ambientais tendem a ser secundarizadas, mas nem negociador nem diplomacia conseguirão minorar o peso da fatura climáticaDepois de 15 dias de reuniões, os 195 países­ que participaram na cimeira de Durban, África do Sul, comprometeram-se, a 11 de dezembro, em estabelecer um roteiro com vista a conseguir, até 2015, um novo tratado que vincule a comunidade internacional com a redução das emissões de gases com efeito de estufa. Mas a cimeira esconde uma amea­ça séria de falhanço dos objetivos definidos em Quioto. Em tempos de crise, o clima vai ter de esperar pela diplomacia. No final destas cimeiras, habitualmente, as opiniões dividem-se entre o sucesso e a desilusão. Enquanto as diplomacias sublinhavam o compromisso conseguido, as organizações não-governamentais acusavam o caráter abstrato do acordo.com efeito, este incide apenas sobre um compromisso, cujos objetivos só serão definidos até 2015, concedendo-se um período de mais cinco anos para a aprovação do tratado por parte dos estados. Canadá desvincula-se de QuiotoEntretanto, o acordo que vigorará sobre esta matéria será o de Quioto, assinado em 2005 e que deveria expirar em 2012. Para evitar um vazio sobre esta matéria, a cimeira de Durban decidiu prolongá-lo até 2017. Mas, dois dias após o compromisso, o Canadá assumiu a sua incapaci­dade em cumprir os objetivos de redução das emissões de carbono em seis por cento. Estima-se que as suas emissões aumentarão 17 por cento, o que obrigaria o governo de Otava a pagar uma multa de cerca de 13,5 biliões de dólares. Face a esta posição, a questão que se coloca é a de saber qual vai ser a atitude de países como o Japão e a austrália, já que os Estados Unidos nunca assinaram o protocolo de Quioto. a seguir-se por este caminho, tal atitude pode representar deitar fora os objetivos de Quioto e dar uma machadada final na credibilidade de futuros acordos sobre esta matéria. Deste modo, também de nada valerá a iniciativa de Durban de vincular toda a comunidade internacional, incluindo os países em vias de desenvolvimento, num compromisso de redução das suas emissões de carbono para a atmosfera. O clima não enviará negociadorCom efeito, a China – considerada o maior produtor de gases com efeito de estufa – e a Índia passarão a estar vinculadas num futuro acordo sobre esta matéria. Mas se os países se puderem desvincular dos compromissos, como agora o tenta fazer o Canadá, tudo nesta matéria não passará de boas intenções. a redução das emissões de carbono pretende evitar que a temperatura mundial suba, até ao final do século, mais dois graus centígrados, limite para além do qual se prevê que o planeta poderá sofrer alterações climatéricas catastróficas. Se é verdade que em tempos de crise as preocupações ambientais tendem a ser secundarizadas, não é menos verdade que, quando chegar a fatura climática, não haverá negociador nem diplomacia que consigam minorar os seus efeitos.