O Papa não poderá estar presente na Via Sacra do Coliseu. Os médicos são peremptórios: não haja imprudências! No silêncio do seu apartamento reza e sofre.
O Papa não poderá estar presente na Via Sacra do Coliseu. Os médicos são peremptórios: não haja imprudências! No silêncio do seu apartamento reza e sofre. O Papa continua no seu silêncio obrigatório. Faltou à celebração da quinta-feira santa, na basílica de São Pedro. Foi presidida pelo Cardeal Re, como aliás estava previsto. Cerca de mil sacerdotes, muitos bispos e dezenas de cardeais participámos na celebração da missa crismal, com a bênção dos santos óleos e a renovação das promessas sacerdotais.

No início, ouvimos a leitura da mensagem do Santo Padre: “Do meu apartamento, através da televisão, estou espiritualmente no meio de vós. Convosco dou graças a Deus pelo dom do mistério do nosso sacerdócio; convosco e com toda a família dos fiéis rezo para que não faltem na Igreja numerosos e santos sacerdotes”.

a ausência do Papa na missa crismal não suscitou surpresa. Já estava prevista para facilitar a sua convalescença, que está ser mais lenta do que se esperava. Os médicos continuam muito cautelosos. Não querem que o Papa se exponha a riscos indesejáveis.

Por isso não participará na Via Sacra do Coliseu. Os romanos esperavam vê-lo, pelo menos, nessa celebração que o Papa aprecia de um modo muito especial. Não sucederá. Provavelmente os fiéis poderão vê-lo e receber a sua bênção através do ecão da televisão.

Será o cardeal Camillo Ruini a carregar a cruz no início e no fim da celebração. Os milhares de peregrinos seguirão os passos da Via Sacra com a meditação dos textos que foram preparados pelo cardeal Ratzinger e aos quais acabamos de ter acesso.

São meditações muito ricas e com uma clara aplicação à história da humanidade. ” a Via-Sacra mostra-nos um Deus que partilha pessoalmente os sofrimentos dos homens, cujo amor não se mantém impassí­vel nem distante, mas desce ao nosso meio até à morte na cruz”, diz o cardeal.

Os textos poderão, à primeira vista parecer, bastante pessimistas. São realistas. Esclarecem a situação da Igreja num mundo descrente. Nos passos de Cristo o Cardeal lê os passos da nossa humanidade: “Olhando a história mais recente, podemos também pensar como a cristandade, cansada da fé, abandonou o Senhor: as grandes ideologias, com a banalização do homem que já não crê em nada e se deixa simplesmente ir à deriva, construí­ram um novo paganismo, pior que o antigo, o qual, desejoso de marginalizar definitivamente Deus, acabou por perder o homem. Eis o homem que jaz no pó. O Senhor carrega este peso e cai… cai, para poder chegar até nós;cai para nos levantar”.