Este Natal vai ser ocasião de inúmeras lamentações, provocadas pela crise em que Portugal mergulhouEste Natal vai ser ocasião de inúmeras lamentações, provocadas pela crise em que Portugal mergulhouO alto desemprego, que ainda não parou de aumentar, e as medidas de austeridade que já entraram em vigor (como o corte do equivalente a metade ao subsídio de Natal) retiram poder de compra às famílias. E muitas delas já vivem abaixo do nível de pobreza. Às queixas das pessoas irão somar-se as queixas dos comerciantes. a época de Natal costuma ser de elevado consumo, compensando a falta de vendas no resto do ano. Desta vez, a compensação será certamente bem menor do que em anos passados. Dito isto, importa recordar as críticas que muitos de nós (nos quais me incluo) fizemos ao consumismo natalício. Em larga medida, o Natal cristão transformou-se numa festa pagã e materialista. Pois bem, as dificuldades do próximo Natal podem e devem ajudar-nos a situá-lo de novo numa perspectiva mais cristã. Decerto que tal fará pouco sentido para quem não é crente. Mas é obrigação dos católicos fazer esse esforço. Não como consolação para a austeridade a que estamos obrigados. Mas enquanto opção consciente e responsável de deixar a superficialidade em que se tornou a época natalícia e aprofundar a extraordinária mensagem de esperança que o Natal representa. Um Deus que se faz homem, partilhando a fragilidade da nossa condição, é algo que ultrapassa todos os condicionalismos negativos do presente. Este poderá ser um Natal diferente, pela positiva, se os cristãos forem capazes de transmitir a uma sociedade egoísta e com horizontes meramente materiais um pouco do verdadeiro espírito natalício. Não iremos assim mudar o mundo. Mas, pelo menos, apontaremos uma luz de esperança. E concentraremos atenções naquilo que é verdadeiramente importante na vida. as dificuldades deste Natal criam uma oportunidade que não podemos desperdiçar. O que será reforçado pela maior exigência de solidariedade com aqueles que mais vulneráveis estão às carências económicas. Mesmo para os não cristãos, o Natal ainda envolve um apelo a dar atenção aos que sofrem. É uma atitude que, graças a Deus, ainda não foi varrida pelo consumismo desenfreado. Ora sabemos como a pobreza tem vindo a aumentar entre nós com a subida do desemprego e o apertar do cinto. O Estado está sem dinheiro e as instituições privadas de solidariedade social deparam-se com uma enorme subida dos pedidos de ajuda. Muitas já não conseguem responder a todos esses pedidos. O que impõe aos católicos uma redobrada responsabilidade de apoiar mais aquelas instituições, pertençam elas à Igreja católica ou não. Não é fácil em tempo de crise, mas é indispensável nesta emergência. Não esqueçamos aquilo que o menino cujo nascimento vamos celebrar disse há dois mil anos: o que fizeres ao mais pequeno de entre vós a Mim o fareis. Esta é a base da moral cristã: Deus está no pobre, no doente, no preso, etc. Oxalá o Natal diferente deste ano nos faça perceber – e viver – melhor esta dimensão essencial do mistério da Encarnação.