assumido com um pólo cultural na cidade, o Museu de arte Sacra e Etnologia de Fátima utiliza as redes sociais e novas tecnologias para chegar junto dos visitantes. a Fátima Missionária visita o museu e desvenda-o um pouco
assumido com um pólo cultural na cidade, o Museu de arte Sacra e Etnologia de Fátima utiliza as redes sociais e novas tecnologias para chegar junto dos visitantes. a Fátima Missionária visita o museu e desvenda-o um poucoFátima Missionária (FM): Este é um museu privado, de um instituto religioso. O que o distingue de outros museus?
Gonçalo Cardoso (GC): É um museu eclesiástico, ou seja, além das missões comuns a outros museus ao nível da inventariação, conservação, divulgação e estudo de bens culturais, este deve ter uma missão catequética e evangelizadora. a missão do MaSE é dar a conhecer ao visitante, através de valiosas colecções de arte Sacra e de Etnografia, o espírito missionário da Igreja e convida-lo a participar com ela no esforço da Evangelização do mundo. a carta circular de 2001 da Comissão Pontifícia para os Bens Culturais da Igreja confirma este sentido, na medida em que o museu eclesiástico se deve apresentar () como sede para a coordenação da actividade conservadora, da formação humana e da evangelização cristã num determinado território. Outrossim, na sua organização, deve ser acolhido o dinamismo social, as políticas culturais e os planos pastorais aprovados para o território de que faz parte”.

FM: Este é um museu de cariz missionário. Há uma ligação forte entre os missionários da Consolata que passam por Fátima e o museu?
GC: Tudo depende das diferentes sensibilidades individuais e das tarefas a que os missionários estão destinados. alguns dos missionários colaboram directamente no trabalho do museu com a condução de visitas guiadas a grupos, assumindo-se de extrema importância pela riqueza do seu testemunho diante dos visitantes. Essa participação directa, de quem esteve em missão, motiva e desperta maior interesse nos visitantes. Há missionários que são chamados a participar em várias palestras ou em testemunhos missionários. Outros oferecem ao museu peças dos locais onde estiveram em missão, outros ajudam na divulgação através da comunicação social ou dando pertinentes sugestões. Temos tido ao longo dos anos óptimas colaborações.

FM: Tem uma aposta forte em ateliers e actividades para crianças, sobretudo. Porquê?
GC: O público infantil é de extrema importância. É nestas idades que temos de criar hábitos de visita a museus. É claro que nos obriga a ajustar as visitas a este tipo de público e os ateliers surgem como um meio extremamente eficaz para motivar as crianças durante os percursos, obrigando-as a interagir com objectos ou com temáticas diversas.

FM: O MaSE promove vários concertos e tertúlias falta cultura em Fátima?
GC: Penso que existe mais do que, por vezes, se pensa e se afirma. Muitas são as actividades culturais que decorrem ao longo do ano em Fátima, por iniciativa de várias entidades e para diferentes tipos de públicos. O MaSE procura apenas colaborar no aumento e na diversidade dos eventos culturais. Quanto mais cultura houver, melhor para as populações, sendo esta de qualidade, claro.

FM: Que tipo de ligação o museu mantém com a sociedade civil?
GC: O museu procura não estar isolado da comunidade. O museu não é, nem pode ser, uma ilha. Tem de estar aberto à comunidade e fomentar parcerias com instituições. Só assim é um verdadeiro museu. Temos promovido parcerias com escolas, conservatórios de música e associações, de forma a serem empreendidos projectos que contribuam para o desenvolvimento de actividades mais relevantes, de maior qualidade e durabilidade. É preciso juntarmos sinergias.

20 anos
FM: Sendo propriedade de um instituto religioso, o museu segue um caminho próprio? Ou obedece as políticas da província portuguesa?
GC: O museu tem uma comissão de acompanhamento, à qual é apresentado anualmente um plano de actividades. Sobre este surgem sugestões, ideias e, é claro, se se puderem integrar actividades do museu na programação nacional, tanto melhor.

FM: Dos 20 anos do MaSE, os últimos dez, já se fazem com o actual director no museu. Que mudanças ocorreram nestes últimos anos?
GC: Entrei no ano 2000 como técnico superior, onde realizei um estágio profissional que incidiu maioritariamente em serviços de inventário. No final dos nove meses, fui convidado a permanecer no museu, realizando várias actividades ao nível do serviço educativo, animação, investigação e programação de exposições. apenas em 2005 fui convidado para assumir o cargo de director que aceitei com muita honra e prazer, mas também com muita responsabilidade.

FM: É o primeiro leigo a assumir o cargo de director do MaSE. É uma responsabilidade acrescida ou voto de confiança no profissionalismo?
GC: Foi para mim uma honra e nunca pensei, sinceramente, receber tal convite. O facto de ter sido o primeiro leigo na direcção foi e é uma responsabilidade acrescida, como referiu. ao mesmo tempo, penso ter sido um voto de confiança que me foi atribuído e que dia-a-dia procuro cumprir.

Divulgar o futuro
FM: as redes sociais e a internet ajudam também na divulgação do MaSE?
GC: absolutamente. Penso que nunca antes o museu foi tão divulgado e tudo devido a estas novas tecnologias. O dinamismo do blogue e do facebook colocam as pessoas a par, em poucos segundos, sobre as iniciativas e dinâmicas do museu. a título de exemplo, há pouco tempo, após a divulgação no FB da realização de um curso-livre no museu, obtivemos em poucas horas uma dezena de inscrições. Isto apenas divulgado no FB, o que foi óptimo! além disso, em vários concertos ou outras iniciativas, muitos dos participantes tomaram conhecimento pela internet. Prova que é este o caminho a seguir, tendo de acompanhar as novas tecnologias.

FM: Que dificuldades sente um museu deste tipo, numa altura de crise, em que a cultura não é um bem essencial?
GC: Pensamos nós que a cultura não é um bem essencial mas é.com o tempo a sociedade aperceber-se-á disso. a cultura abre os espíritos, promove a criatividade, fomenta as diversidades e apela ao respeito pelo diferente. Não é isso um dos motores essenciais do desenvolvimento para uma sociedade melhor? Não podemos secundarizar a cultura. Reconheço que existirão maiores dificuldades. as pessoas ao virem a Fátima vão tendo cada vez mais em conta as despesas ao nível de combustível, das portagens, das recordações e dos ingressos aos museus. Iremos, certamente, encontrar menor facilidade dos visitantes entrarem, mas temos de encontrar soluções de maneira a que não possamos perder a possibilidade de dar a conhecer a Missão através das nossas colecções expostas.

FM: Que projectos para o futuro? Depois da Liga e do Roteiro?
GC: Este tipo de datas são óptimas oportunidades para reflectirmos sobre o passado e prepararmos o futuro. Pensamos que o lançamento de um roteiro desta qualidade irá impulsionar o desenvolvimento de uma linha editorial mais frequente. É muito importante divulgar os estudos das colecções. Quanto à Liga de amigos pensamos ser também uma óptima ajuda para a divulgação de actividades, surgimento de outras e principalmente, aproximar o museu da comunidade. Projectos futuros passarão pelo reforço de novas tecnologias no espaço museológico, de forma a acompanhar o desenvolvimento da sociedade que procura obter dos espaços visitados o maior número de experiências.

Visita ao museu
FM: Que peças recolhem maior atenção por parte dos visitantes?
GC: a colecção de Meninos Jesus duma forma geral, pela quantidade e qualidade; o tronco escultórico em ébano Passos da Vida de Cristo; a peça em terracota Natividade”, do peruano Luís Jeri, que representa o parto da Virgem; o barrete do Francisco da Sala dos Pastorinhos” e também o espaço arquitectónico da Capela.

FM: E que críticas?
GC: Curiosamente, da parte dos visitantes, é não terem conhecido o museu há mais tempo, não sabendo, muitos deles, da nossa existência. Remete-nos para uma maior reflexão ao nível da publicidade e ao nível da fachada arquitectónica que leva a que o museu passe despercebido pelos milhares de pessoas que percorrem a rua.

FM: O que faz falta no museu?
GC: a aposta de equipamentos multimédia interactivos, que complementem a informação de diversas temáticas afloradas ao longo do percurso, e também o aumento de recursos humanos.