“Precisamente para introduzir novos valores na vida social, parece-me urgente a inserção do cristão na Política activa” referiu Manuel Linda, bispo auxiliar de Braga, no 27º Encontro da Pastoral Social que decorreu em Fátima de 13 a 15 de Setembro
“Precisamente para introduzir novos valores na vida social, parece-me urgente a inserção do cristão na Política activa” referiu Manuel Linda, bispo auxiliar de Braga, no 27º Encontro da Pastoral Social que decorreu em Fátima de 13 a 15 de SetembroO bispo auxiliar de Braga pôs o “dedo na ferida”: Se é “no centro, nos Ministérios, que se tomam as grandes decisões então, é aí que o cristão deve estar, para que as decisões tomadas sejam sensatas, humanas, éticas e em função do bem comum universal”. Para este responsável da Igreja, “nas condições actuais, é impossível o amor ao próximo em larga escala – a macro-caridade – fora da vinculação política”. De facto, o amor para com o próximo também passa pela luta de criar condições dignas, mas dentro do próprio círculo político.
Manuel Linda lembrou os “eufemísticamente designados «desafortunados do mundo: os 90% que têm de sobreviver com apenas 10% da riqueza do planeta para que os outros 10% possam gastar, à tripa forra, 90% dos bens disponíveis”. Ou seja, o bispo convida-nos a fazer um exame consciencioso e “pensar o desenvolvimento”, na “perspectiva da frieza dos números, mas de acordo com os parâmetros fundamentais da dignidade humana, da fraternidade universal e da comum paternidade de Deus”.

Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças armadas, também presente naquele encontro foi ainda mais longe e entende que a Igreja se deve indignar contra a acção do Estado perante aqueles que já foram “desapossados da sua dignidade”. “Se nos dizemos Igreja, servidores do mundo, devemos sentir-nos cúmplices e não devo dormir descansado perante toda esta multidão de pessoas que já foram desapossadas da sua dignidade, do respeito por elas próprias e a quem as promessas vão no pior sentido” referiu. São palavras duras, mas que nos devem fazer reflectir seriamente.

Os homens consagrados, com responsabilidades na Igreja, por vezes parecem ter alguma relutância em vir a público falar sobre a obrigação da Igreja e dos cristãos em participar activamente na política. Qualquer destes dois bispos, cada um a seu modo, não se coibiram de assumir aquilo que está à vista de qualquer cidadão e que revela a sua consciencialização do quão importante é o exercício da política sem medos, nem constrangimentos.

Necessitamos de pessoas sérias na política, cidadãos que dêem valor à verdade e à tolerância, mas sobretudo que exerçam o testemunho cultivando esses valores. Quantas vezes criticamos os políticos, pela falta de princípios, pela incompetência na sua acção, mas esquecemo-nos de que para alterar esse estado de coisas também é preciso darmos um pouco de nós próprios. Convém recordar que não é a política que faz as pessoas, mas estas que fazem a política.