Marcam 7 horas de 2 de agosto. Já “mata-bichados”, no termo moçambicano para pequeno-almoço, seguimos de táxi rumo ao aeroporto para alugar um carro que nos leve para lá da fronteira
Marcam 7 horas de 2 de agosto. Já “mata-bichados”, no termo moçambicano para pequeno-almoço, seguimos de táxi rumo ao aeroporto para alugar um carro que nos leve para lá da fronteira E assim acontece! Sem grandes demoras, alugamos um carro, com um gps, já que o sentido de orientação inicial em África é muito fraco, para não dizer quase inexistente. Eu e os dois irmãos italianos de Torino regressamos a casa, já no carro recém alugado, para apanhar a Filipa, que ficara na casa regional da Consolata à nossa espera. E nisto já vou no terceiro dia em Moçambique e quase não referi uma das particularidades rodoviárias deste país, que dificilmente entra no hábito de qualquer europeu, exceptuando os bretões. apesar de tão longa colónia portuguesa, por influência sul-africana e por sua vez inglesa, os automóveis circulam pela esquerda. Sendo assim, o volante é igualmente do lado direito para contrariar o nosso hábito. Mas voltemos à nossa viagem, que espera ainda mais de uma centena de quilómetros para serem percorridos. O carro, com quatro lugares preenchidos, devora a estrada de alcatrão em direcção à fronteira de Ressano Garcia.

À medida que nos afastamos do centro movimentado de Maputo, a estrada começa a ficar sozinha entre planícies imensas, em que o céu parece mais distante e o horizonte alarga-se para o infinito. ao chegarmos mais perto da fronteira, podemos então ver pequenas comunidades de casas de construção pobre e os agora habituais vendedores de estrada, que tentam fazer negócio com os que por ali passam. Chegamos então ao posto fronteiriço, depois de percorrer mais de 100 quilómetros. ao abrir as portas do carro, somos logo interpelados por quatro ou cinco moçambicanos. Um deles depressa entrega a sua identificação de cidadão de Moçambique e tenta fazer-nos crer que está ali para nos ajudar a resolver a burocracia da fronteira. Chama-se Mauro e, apesar da sua aparente simpatia, temos consciência que a facilidade com que entregamos os passaportes recorrendo à sua ajuda, cedo trará algum senão.

Passando à frente de uma enorme fila e depois de mil meticais que seriam o preço do carimbo, ou talvez não, os passaportes estão carimbados e de volta às nossas mãos. É então que surge a conversa por parte do Mauro, que o serviço fora bem feito e que mereciam algo mais para um refresco. ainda sem termos dito qualquer palavra, atiram 100 euros, como se fosse algo completamente natural.como recusamos, tem início um regatear que aumenta a tensão em torno do carro. O segundo número avançado é de 1000 rands, na moeda sul-africana, mas persiste a recusa. Na sua ingenuidade ou com pouca noção do ambiente gerado em torno da gorjeta extra, os irmãos faziam o regatear de carteira aberta na mão. a adrenalina já me corre nas veias e antecipo algo brusco ou uma situação inesperada ali mesmo. a última oferta da nossa parte é de 500 meticais e 5 euros o que faz cerca de 17,5 euros. apesar dos nossos interlocutores continuarem a dizer que não e que querem mais, o dinheiro é colocado na mão do Mauro e depressa se fecham as portas e trancas. a tensão estala por momentos e continuam a bater no vidro do carro para ver se abrimos o vidro. Mas o carro depressa arranca e o bater do coração acelerado ainda não respira alívio.

Chegamos ao posto fronteiriço sul-africano e o guarda apenas verifica o porta-bagagem do carro, confiscando um saco de fruta por alegar que legalmente não a podemos transportar para lá da fronteira. Olha para os nossos passaportes, dizendo que são internacionais e manda-nos seguir.com a tensão ainda acumulada e com alguma ansiedade de passar a fronteira, fazemos uma proeza burocrática por puro esquecimento: entramos na África do Sul com o carimbo de saída de Moçambique, mas sem o carimbo sul-africano de entrada. a viagem continua e apenas fazemos mais uma pequena paragem, antes de chegar às portas do Kruger Park, que mais parece uma portagem. Nessa pequena paragem, num supermercado já sul-africano, compramos dois chouriços tipicamente portugueses que ficam prometidos a um padre italiano, que no-los pedira em Maputo. após a singular compra dos chouriços portugueses, continuamos, estrada fora, até à crocodile bridge, que era uma das entradas para o parque. No pequeno trajecto que separa a fronteira do parque, a mudança na paisagem é brusca. as pequenas hortas individuais do lado moçambicano são substituídas por enormes monoculturas de latifundiários, com sistemas de rega modernos, mostrando assim sinais de outro desenvolvimento. Eis que chegamos à entrada do parque. Depois de 720 rands, um suposto recibo e um pequeno livro sobre o Kruger, estamos finalmente dentro do parque. Mais aventuras estão reservadas para os próximos capítulos.