José Graziano considerou que o problema da fome no mundo não passa pela incapacidade de se produzir alimentos suficientes, mas pelo desperdí­cio que se verifica no mundo desenvolvido
José Graziano considerou que o problema da fome no mundo não passa pela incapacidade de se produzir alimentos suficientes, mas pelo desperdí­cio que se verifica no mundo desenvolvidoEsse fantasma malthusiano que renasce nessas teorias [do fim dos recursos alimentares] já não tem razão de ser, afirmou o director-geral eleito da Organização das Nações Unidas para a agricultura e alimentação (FaO). Hoje, felizmente, as duas mãos produzem mais alimentos do que a boca é capaz de consumir. O brasileiro que será o primeiro latino-americano a chefiar a FaO, acrescenta: Mas há outro tema, que é o padrão de consumo. É de facto insustentável generalizar o padrão de certos países – não apenas dos EUa, mas dos países desenvolvidos e das classes altas do restante do mundo. E avisou Esse padrão do desperdício, do fast food’, onde a embalagem acaba por conter mais energia e valor do que os próprios alimentos, isso não pode persistir. Em entrevista à emissora de televisão brasileira Rede TV, José Graziano citou dados de uma pesquisa da FaO segundo a qual o mundo já tem hoje capacidade de produzir alimentos para sustentar até dez mil milhões de pessoas – população mundial estimada para 2050, refere a agência Lusa. Nós temos projecções na FaO que indicam que, em 2050, quando a população deve estabilizar-se em torno de nove, dez mil milhões, já temos hoje capacidade de produzir alimentos para sustentar essa quantidade de pessoas, mencionou, para mostrar que o problema não está na produção, mas na distribuição e melhor gestão do consumo. O novo diretor-geral destacou que grande parte das perdas ocorre durante o transporte e a armazenagem dos alimentos. Para fazer frente a essa logística pouco eficiente, defende a diversificação da produção, com maior produção local, além do incentivo ao consumo de alimentos da cultura autóctone. O problema é que nós caminhamos para um padrão alimentar único no mundo, que é o McDonald’s, o pão, a batata-frita. Quer dizer, os grandes produtos, trigo, milho e soja, que hoje respondem por três quartos da alimentação no mundo e, com o arroz, vai para oitenta e tantos por cento. Temos de voltar a ter a alimentação como uma cultura, no sentido mesmo cultural do tema. José Graziano assume o cargo em Janeiro de 2012 para um mandato de três anos, até 2015, substituindo o senegalês Jacques Diouf, que ocupa o cargo desde 1994.