Com a criação, no passado dia 9 de Julho, do Sudão do Sul termina a história de uma das mais sangrentas guerras civis do continente africano que, durante cerca de 50 anos, vitimou cerca de dois milhões de pessoas
Com a criação, no passado dia 9 de Julho, do Sudão do Sul termina a história de uma das mais sangrentas guerras civis do continente africano que, durante cerca de 50 anos, vitimou cerca de dois milhões de pessoasPor detrás das declarações solenes de independência, das festividades e das promessas de apoio, o novo governo de Juba, a capital do mais jovem estado africano, enfrenta inúmeros desafios à sua estabilidade. a guerra, as questões étnicas, a pobreza que alimentaram o conflito com Cartum, são agora problemas que o Sudão do Sul vai ter de resolver internamente. a independência do Sudão do Sul é o resultado próximo dos acordos de paz celebrados em 2005 e do referendo rea­lizado em Janeiro onde cerca de 99 por cento dos votantes deram o sim à independência de parte daquele que era o maior país do continente africano. Praticamente desde a sua fundação, em 1955, questões religiosas, étnicas, ideológicas e o controlo dos recursos petrolíferos estiveram na base de mais de 50 anos de conflitos. Unir um território plural a curto prazo, o novo presidente, Salva Kiir Mayardit, terá de enfrentar árduos desafios que se colocam ao novo Estado. O primeiro deles será o de consolidar a unidade nacional: uma dezena de milícias rebeldes desafiam a segurança nacional, sendo-lhes atribuída a responsabilidade pela morte de cerca de um milhar de pessoas por ano. Para além disso, o Sudão do Sul, com uma dimensão idêntica à França, é constituído por cerca de 10 milhões de habitantes, distribuídos por cerca de 500 grupos tribais e mais de 100 línguas locais diferentes. apesar das promessas do petróleo, o Sudão do Sul integra o grupo dos países mais subdesenvolvidos do mundo. Juba é uma capital em ruínas, o asfalto falta nas ruas, bem como a água, o saneamento básico e a electricidade. algumas questões relacionadas com a criação do novo Estado estão ainda por resolver. Em primeiro lugar, a definição da fronteira com o seu vizinho do Norte. Em causa está aquela que é considerada a maior fronteira africana onde permanecem conflitos sobre algumas regiões disputadas por populações do Norte e do Sul ou que consideram que a fronteira entre os dois países não os colocou no lado certo. a questão petrolíferaOs dois países terão ainda de resolver a questão das populações deslocadas em cada uma das regiões e evitar ajustes de contas de carácter étnico, religioso ou mesmo económico. Para além disso, apesar dos acordos de paz e das promessas de cooperação internacional, Juba e Cartum terão ainda que se entender sobre o futuro dos recursos petrolíferos. O tratado de paz de 2005 previa a repartição dos recursos entre os dois países, mas eles vão ter de ser renegociados, uma vez que os acordos caducaram e sem que se chegasse a uma nova solução. Se Juba tem sob seu domínio cerca de 75 por cento dos recursos petrolíferos, Cartum é quem detém o poder de refinação e os oleodutos. Mas será essa dependência mútua motivo suficiente para trazer a paz e o desenvolvimento a dois países irmãos que se digladiaram durante tanto tempo?