– “antes, eu achava que não ia conseguir nada nem sabia o que queria, e assim”
– O que mudou?
– “Não sei, mas agora quero ir para a Universidade e já me apetece estudar e isso… “
– “antes, eu achava que não ia conseguir nada nem sabia o que queria, e assim”
– O que mudou?
– “Não sei, mas agora quero ir para a Universidade e já me apetece estudar e isso… “Numa linguagem ao estilo juvenil e com uma expressão feita de um misto de vergonha e de orgulho, até de espanto consigo mesmo, Daniel esperava que o seu interlocutor lhe explicasse alguns mistérios sobre algumas coisas que sentia e pensava. – Naquele dia sempre fui lá colaborar na recolha de alimentos. – Como foi essa experiência?- Estava quase a vir embora. Só não vim porque os que ficavam não conseguiam fazer tudo sozinhos. Pedíamos que as pessoas colaborassem e algumas até fugiam por outro lado. Uns até disseram que não tínhamos nada que incomodar as pessoas que iam às compras. Eu ficava envergonhado. apetecia-me fugir. – Mas continuaste mesmo com vergonha!… – Pois foi. No fim até já estava a gostar. Não queria vir embora. Enchemos cinco carrinhos grandes do supermercado com compras. Depois fui ajudar a professora a levar tudo para a Cáritas. – alguma coisa mudou depois desta tua ajuda?- agora, acho que já não me importo com o que possam dizer. Foi bom juntar tanta ajuda!… Senti-me bem! Foi algo de parecido como ser o Robin dos Bosques. Mas ainda melhor, porque ajudámos os mais pobres e não foi preciso lutar. Bastou pedir!Daniel parecia agora um jovem sonhador e liberto do peso dos seus medos de não ser aceite num grupo, de enfrentar olhares, de receber críticas e de não ser capaz de realizar nada com valor. Na verdade, Daniel pertencia ao grupo dos mais pobres. Vivia com a mãe-avó (avó a quem chamava mãe) depois da mãe o ter abandonado aos dois anitos. Recolhia-se em casa em atitude desistente, envergonhado da sua história e de si próprio. Mas, naquele dia em que, a medo, levantou o dedo na aula de Inglês, a pedido da professora, alistou-se no grupo de voluntários para a recolha de alimentos para serem distribuídos pela Cáritas. a partir daí, Daniel esqueceu que era um jovenzito que, às vezes, descia a pé para a escola por não poder comprar o passe e que a mãe, também ela, recorria à Cáritas para que ele não passasse fome. até se esqueceu de pensar: Sou um triste. O efeito desse dia não acabou com a badalada da meia-noite: Hoje, muitos dias depois, Daniel continua a procurar novas oportunidades para concretizar a recente descoberta: também ele podia dar. Mesmo não tendo nada para dar, podia pertencer ao grupo daquelas pessoas que ele não conhecia, mas estava habituado a admirar, porque pareciam poderosas e capazes de resolver todos os males – as que ele sabia que ajudavam a resolver alguns dos problemas que afligiam a mãe. a descoberta de quanto era bom e possível desde já pertencer a este grupo, converteu os seus desânimos e inércia em determinação de outras conquistas. Por momentos, os vazios forjados pela experiência de abandono no início da sua vida, foram esquecidos e preenchidos pela descoberta da sua vocação escondida de amar, partilhando o que pode daquilo que é e possui. E Daniel possuía tanto sem saber! abrir–se aos outros, para fora de si, levou-o ao espaço onde se encontrou com um Daniel sem medo, cheio, não de vazios, mas de possibilidades. Encontrou-se com outras dimensões de si mesmo. E gostou! ainda não conhecia este Daniel cativante. agora que o descobrira, até se atreveu a dizer: Estou feliz! a partir deste ponto, Daniel desenhava no seu horizonte outros caminhos preenchidos com outras cores: não feitos de vazios, mas preenchidos com outros tantos gestos e sinais amorosos de tanta gente que o acolheu e amou. Foi este o resultado de uma tarde a ser Robin dos Bosques – mas ainda melhor!.