Os preços dos bens alimentares subiram muito em 2008 e de novo este ano, agravando o espectro da fome. Recentemente aliviaram um pouco, mas a perspectiva a longo prazo aponta no sentido da alta
Os preços dos bens alimentares subiram muito em 2008 e de novo este ano, agravando o espectro da fome. Recentemente aliviaram um pouco, mas a perspectiva a longo prazo aponta no sentido da altaEm parte por boas razões: há milhões de pessoas que melhoraram o seu nível de vida, sobretudo na Ásia, e naturalmente querem alimentar-se melhor. Mas também por motivos negativos: as alterações climáticas não ajudam a produção agrícola. Em África, por exemplo, a seca que atinge países como a Somália é a pior dos últimos 60 anos. O Quénia e a Etiópia também sofrem com a falta de chuvas. a fome mata ali muita gente. O programa alimentar das Nações Unidas está sem dinheiro para enfrentar a catástrofe. acresce que as guerras no chamado Corno de África aumentam a miséria. Os países ricos têm falhado as suas promessas de ajuda alimentar. Isto, para além do proteccionismo agrícola dos Estados Unidos, da União Europeia e do Japão, que trava o desenvolvimento da agricultura dos países pobres. Os países desenvolvidos estão pouco virados para a generosidade porque, também eles, estão a passar por dificuldades. Pela primeira vez desde há muito, as futuras gerações irão viver pior do que a dos seus pais – contra a convicção de que a economia ia sempre progredindo, tirando um ou outro abalo passageiro. Ora os países ricos vivem em sobressalto desde há pelo menostrês anos. Em Setembro de 2008, após a falência do banco americano Lehman Brothers, o sistema financeiro internacional esteve à beira do colapso, que teria consequências económicas trágicas. Evitou-se o pior, mas os governos tiveram que gastar uma enorme quantidade de dinheiro, inédita em tempo de paz, para não deixarem cair a economia. agora os EU a estão atrapalhados com o seu défice orçamental. E a EU parece só resolver os problemas in extremis, como felizmente aconteceu no último Conselho Europeu extraordinário. aí deram-se passos importantes para enfrentar a crise das dívidas soberanas, nomeadamente da Grécia, mas também de Portugal e da Irlanda. assim pode ter-se evitado a saída destes países da zona euro ou até a desagregação da moeda única, o que seria uma tragédia económica. Estas crises têm uma causa comum: as pessoas (americanos e portugueses, por exemplo) viveram durante anos acima dos seus recursos. Consumiam mais do que produziam, no caso português cerca de 10 por cento. E cobriam a diferença com crédito externo. Os EU a vendendo títulos do Tesouro a todo o mundo, sobretudo à China; os portugueses acumulando uma dívida externa que já atinge cerca de 220 por cento do PIB. Dívida que não é só do Estado; é também das famílias e das empresas. E agora? No caso português, vai demorar tempo a conseguirmos produzir mais e a sermos mais competitivos. Por isso, há primeiro que apertar o cinto, isto é, reduzir o consumo. Não dos mais pobres, que já consomem menos do que deviam. Mas dos outros, como a chamada classe média. Precisamos de adoptar um estilo de vida mais sóbrio, prescindindo de certas coisas que há 50 anos muitos Portugueses não tinham, mas depois passaram a considerar indispensáveis. Não é fácil, mas não há outro caminho no curto prazo.