Natural de Água Longa, Santo Tirso, “é uma pessoa honesta, muito sincera, às vezes, de tão sincera pode ser um bocadinho dura”, é assim que se autodefine Maria José Guimarães
Natural de Água Longa, Santo Tirso, “é uma pessoa honesta, muito sincera, às vezes, de tão sincera pode ser um bocadinho dura”, é assim que se autodefine Maria José GuimarãesMuito exigente, tento ser coerente com os meus princípios, com a minha maneira de ser, com a educação que recebi e com a fé que tenho.com 49 anos fresquinhos, tem um sonho. Gostaria de partir em missão. É um sonho que sempre tive, mas que me obrigou a aprender a ser missionária cá dentro, pela impossibilidade de ir para fora. Estou convencida que um dia ainda vou conseguir partirConheço os Missio­nários da Consolata há 34 anos. Tinha então 15.como os conheceu?Vinham e ainda vêm à minha paróquia colaborar com o pároco.com eles, aprendi o dom da consolação. O que é que entende por dom da consolação?É estar ao lado do outro e consolá-lo. É dar um pouco de disponibilidade, de carinho, de atenção, de modo que o outro, quando está comigo, sinta que estou ali para ele.como vive a consolação no seu dia-a-dia? a consolação na minha vida de cada dia está muito presente até, pelo meu trabalho. Qual a sua profissão? Sou enfermeira. Lido com pessoas que sofrem. Neste momento até nem é com a presença física, mas trato de casos, onde posso, de uma maneira mais discreta – actualmente até muito de retaguarda – ajudá-los no alívio do seu sofrimento. É uma área muito pouco conhecida e compreendida. Estou a trabalhar numa Equipa de Coordenação Local da Rede dos Cuidados Continuados. É um serviço espectacular que temos no nosso país que tem crescido e evoluido, direccionado a pessoas com perda de autonomia temporária ou definitiva. Quem bate à sua porta?São pessoas virtuais! Com a minha equipa, avalio os processos de pessoas re­ferenciadas para a Rede dos Cuidados Continuados. Pessoas com perda de autonomia de muitos tipos, dos 18 anos em diante. Pessoas que deixaram de ter a capacidade de se gerirem a si próprias. Estão completa ou parcialmente dependentes dos outros. Que faz para lhes transmitir a consolação?até há dois anos era fácil, pois lidava directamente com pessoas. Era fácil estar ao lado e passar a consolação. Quando mudei de serviço, tive de encontrar o meu espaço de ser consolação. Envolvo-me com os episódios que me chegam. apenas conheço as pessoas pelo que está escrito delas. Mas esforço-me muito para que, eu e a minha equipa, tentemos resolver com o máximo de brevidade possível a situação da pessoa que está no meio hospitalar ou no seu domicílio, numa fase em que precisa de cuidados médicos, de enfermagem ou de cuidados sociais. Lidamos com pessoas em situações muito graves de saúde, que pre­cisam que o processo seja célere. Penso que aí sou consolação. No mundo, ainda haverá lugar para a missão?Cada vez mais! a nossa casa é o campo de missão mais difícil. Depois vamos alargando a um vizinho que pode estar triste ou doente; a outro que ficou desempregado e que até tem vergonha e não diz que precisa de alimentos, de dinheiro para um transporte para uma consulta.como se sente missionária no seu dia-a-dia?Sinto-me missionária da consolação, tentando estar ao serviço dos outros. Sinto que sou missionária no meu íntimo e na minha profissão. Quais os seus hobbies?adoro ler. a minha leitura é muito específica, de aprofundamento espiritual. Gosto muito de ler. De momento, tenho uns tan­tos livros começados. Mas, todos os dias, leio sobre a espiritualidade de José allamano. Também gosto muito de conduzir e ouvir música clássica. Quando estou em espaços verdes, a música e a natureza elevam–me a outro patamar. Gosto de estar com os amigos.