Os bispos portugueses reunidos em Fátima esta semana pronunciaram-se em relação ao momento difícil que o país vive. a separação religião-Política em que a Igreja insiste será coerente, mas poderá pecar por insuficiência
Os bispos portugueses reunidos em Fátima esta semana pronunciaram-se em relação ao momento difícil que o país vive. a separação religião-Política em que a Igreja insiste será coerente, mas poderá pecar por insuficiência
Os responsáveis da Igreja têm que ser claros perante os cristãos e todo o povo, o bem-comum engloba toda a sociedade, ou no mínimo, a sua maior parte. a Igreja poderá não se querer imiscuir nos assuntos que competem ao Governo, mas isso não impede que tome partido pelos mais fracos, mesmo que essa posição desagrade aos políticos e/ou aos poderosos, é essa sua missão que decorre dos princípios basilares emanados da doutrina que prega.

O comunicado do plenário dos bispos refere: Verificámos que alguns líderes políticos, no calor da disputa eleitoral, referiram a Doutrina Social da Igreja para secundar as suas propostas políticas. Tinham o direito de o fazer, pois a vastíssima doutrina da Igreja sobre a sociedade pode, realmente, inspirar programas de governação. Ou seja, os políticos podem servir-se da doutrina da Igreja para ganhar a confiança do povo, o seu voto (mesmo que depois não cumpram, como infelizmente é habitual), e a Igreja, o que poderá fazer? apenas sugerir um caminho? Parece-nos pouco.

É oportuno citar a posição da hierarquia da Igreja: a prioridade do bem-comum de toda a sociedade sobre interesses individuais e grupais é um dos pilares da doutrina da Igreja sobre a sociedade e que pode, neste momento, inspirar as opções governativas. Vamos pôr o bem da sociedade em primeiro lugar, acrescentando: Isso exige generosidade de todos na colaboração e aceitação dos caminhos necessários mas tendo em conta o realismo da situação portuguesa no quadro social, político-económico em que está inserido.

O documento refere que tal deve ser feito procurando que o esforço de equilíbrio financeiro não prejudique a economia, e que não se relativize a importância da saúde, da cultura e da educação. Esta dimensão comunitária é prioritária na visão da Igreja. O amor fraterno, com a capacidade de dom, é o valor primordial na construção da sociedade diz, lembrando especialmente os pobres, os desempregados, os doentes, as pessoas de idade, que devem estar na primeira linha do amor dos cristãos. Temos de criar um dinamismo colectivo de generosidade e de partilha voluntária, fundamentada no amor à pessoa humana.

Os bispos portugueses alertam ainda para as muitas expressões de egoísmo na nossa sociedade, que vão desde a corrupção ao enriquecimento ilícito, a uma visão egocêntrica do lucro, etc. Uma ética da generosidade, da honestidade e da verdade tem de fazer parte da cultura a valorizar. O próprio sistema de justiça tem de ser um serviço que combata os atropelos à generosidade, à honestidade e à verdade. Sem um bom sistema de justiça, nenhuma sociedade será verdadeiramente justa.

as palavras finais do citado comunicado são de incentivo, principalmente para os cristãos: Este momento de crise pode levar-nos a todos a lançar os dinamismos para a construção de uma sociedade mais fraterna e solidária. a Igreja quer, não apenas pela sua palavra, mas pelo seu compromisso na acção, ser a afirmação da esperança.

Pois é esse compromisso na acção que todos nós desejamos ver posto em prática, mas de uma forma nova, ou pelo menos diferente e ousada, mesmo que isso signifique um puxar de orelhas aos políticos quando eles se esquecerem dos seus deveres para com o povo que os elegeu.