Há cada vez mais crianças e jovens a comerem nas cantinas das Misericórdias. O aumento de pessoas que procuram refeições ronda já os 400 por cento, alerta o responsável da instituição
Há cada vez mais crianças e jovens a comerem nas cantinas das Misericórdias. O aumento de pessoas que procuram refeições ronda já os 400 por cento, alerta o responsável da instituiçãoO presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos, mostra-se preocupado com a sustentabilidade deste apoio social, devido à crescente dificuldade das famílias e dos utentes em comparticipar. as Misericórdias são comparticipadas em grande parte pela Segurança Social, no âmbito dos acordos de cooperação e, regra geral, pagam sempre a tempo e horas, afirma Manuel Lemos. Questão diferente é saber se esse dinheiro chega. a situação é particularmente delicada, porque no preço da resposta social está a comparticipação das famílias e dos utentes e o que verificamos é uma crescente dificuldade das famílias e utentes em comparticipar, refere em declarações à agência Lusa.

Há muita gente desempregada e estes serviços oneram muito a classe média, que recorre às instituições. Sempre disse que não há motivo para ninguém ter fome em Portugal, porque, juntamente com as IPSS [Instituições Particulares de Solidariedade Social], temos a maior rede de cozinhas do país e estamos em condições de fazer chegar comida às pessoas. Mas isso traduz-se num aumento da nossa despesa, alerta Manuel Lemos. Em muitas cantinas sociais há aumentos da ordem dos 200, 300, ou 400 por cento, variando de região para região. Na generalidade, verifica-se um aumento muito significativo. alerta também para a mudança completa do perfil de pessoas que recorrem às cantinas: gente muito mais nova, que há um ano ou seis meses tinha emprego e agora já não tem. Nos últimos dois anos esse aumento é contínuo e nos últimos seis meses tem sido acelerado, sublinha.

Conhecedores da realidade, os futuros governantes quando chegar o momento, farão as opções certas. Às vezes não é preciso dinheiro, afirma Manuel Lemos. E conta um caso: Começaram a aparecer crianças com fome e pensámos que o melhor sítio para lhes dar de comer era nos nossos jardins-de-infância e nos aTLs. Fomos impedidos pela Segurança Social, porque considerou que era catering. O presidente da UMP passou por cima do impedimento, sublinhando que ninguém estava a pagar nada, as misericórdias estavam a oferecer comida. Está uma criança com fome, não lhe vamos dar de comer no refeitório onde estão idosos, vamos dar-lhes de comer ao lado de outras crianças, ate a integramos socialmente, explicou.

Por vezes o Estado português é completamente irrazoável e insensato, considera Manuel Lemos. Em situações como esta, é necessário haver flexibilidade, compreensão e perceber que todos estão a trabalhar para o mesmo lado. E se porventura não estivermos a trabalhar bem, agradecemos muito que nos ajudem a corrigir o tiro, para trabalhar melhor. Não suportaremos, nem aceitaremos prepotência e arrogância na forma de trabalhar. Isso não, esse tempo acabou, garantiu.