Esposa, mãe, professora, catequista, uma vida multifacetada e muito preenchida. as tarefas não brigam umas com as outras; «complementam-se!»
Esposa, mãe, professora, catequista, uma vida multifacetada e muito preenchida. as tarefas não brigam umas com as outras; «complementam-se!»ana alexandra Ferreira, 33 anos, de Cascais, vive em Fátima, há seis anos, com o marido e dois filhos. Conta dois anos de voluntária leiga em África: Disponibilizei-me a ir para onde me enviassem. E calhou Moçambique- Ser mãe é uma missão para a vida. Os nossos filhos são o nosso investimento. – Um desafio difícil?- Como vocação, é exigente, mas faz-se com gosto. – Qual a sua experiência mais bonita de ser mãe?- Perceber que estamos a construir um futuro juntos. O projecto é comum e eles [os filhos] sentem-se parte. – Ser esposa?- É ser companheira de caminho. É uma equipa com o marido e com os filhos. – Ser esposa e ser mãe gera conflitos?- Complementam-se. Não po­demos dividir a vida por secções. – E ser professora?- Ser professora também entra no tal projecto. – Tem a ver com ser mãe e esposa ao mesmo tempo?- aos meus alunos costumo dizer que lhes quero bem como aos meus filhos. Passam mais tempo connosco do que com as suas famílias. – Foi voluntária em África?- Durante cerca de dois anos, em Cuamba, no norte de Moçambique- Porquê Moçambique?- No fim do meu curso, tinha decidido fazer uma experiência diferente antes de entrar para a vida profissional. Queria tentar dar aos outros um pouco do que tinha recebido. – Como aconteceu?- Li uma notícia dos Leigos para o Desenvolvimento, te­le­fonei, apresentaram-me vá­rios projectos e disponibilizei-me a ir para onde me enviassem. E calhou Mo­çambique. – Onde?- No norte, na missão de Cuamba, apadrinhada pelos Missionários da Consolata. Lá, a nossa família era a Consolata. Dei aulas, catequese, estive envolvida nas actividades com grupos de jovens, formação, encontros… – a melhor recordação des­ses dois anos?- Duas: uma tem a ver com os missionários que por lá encontrei: pessoas 100 por cento disponíveis, que viram o país totalmente destruído pela guerra, mas encontraram forças para o reconstruir e continuam a afirmar que vale a pena; outra recordação, as pessoas de lá. apesar daquilo a que chamamos miséria, continuam a ser o povo mais feliz à face da terra. – a pior recordação?- Em Moçambique, conheci a Igreja. aí aprendi a viver em Igreja. Encontrei o melhor e o pior. Nomeadamente alguns contra-testemunhos de padres e irmãs. – Quem é que mais admira na sua vida?- Jesus Cristo é incontornável! E os meus pais!- Que está a ler?- Leio vários livros, ao mesmo tempo. Um deles: O fim da pobreza, do professor Jeffrey Sachs. – Como vê o mundo de hoje?- Estamos a viver num equilíbrio muito frágil. Tudo o que construímos, pode desaparecer de um momento para o outro, com um sopro do vento. Temos de saber o que não vai desandar. – E a crise?- a crise começa dentro de cada um de nós. Temos que fazer a revolução interior para que as coisas possam mudar. – Que pensa dos homens que nos dirigem?- Têm um grande desafio. Têm de ser muito competentes e coerentes. – Estão a sê-lo?- Quero crer que as pes­soas estão lá para fazer o bem e acreditam no que estão a fazer. Mas, no dia-a-dia, são influenciadas por diversos factores e, muitas vezes, desviam-se do caminho mais ou menos intencionalmente. – O mundo de hoje caminha para a justiça?- Não há paz sem justiça e não há justiça sem perdão, como dizia João Paulo II. Para caminharmos para a justiça, temos que caminhar para a atitude de perdão. Viver sem rancor no coração.com os nossos vizinhos do lado. – Que pensa da Igreja?- Sou uma novata nas coisas da Igreja. Sinto uma grande responsabilidade. Temos que caminhar mais para construir a verdadeira Igreja que Jesus sonhou. – Que é que a apaixona na Igreja?- a radicalidade! a exigência! a Igreja puxa pelo melhor que há em nós. Vamos à missa e não ouvimos ninguém a apelar para fazermos o mal. as palavras podem parecer antigas e não se perceberem, mas é tudo para o bem. a Igreja puxa por nós. – Que reprova na Igreja?- Não reprovo 99 coisas como Martinho Lutero. Reprovo as pessoas da Igreja que centralizam tudo nas suas mãos. Reprovo que não haja trabalho de equipa. – O que é a missão para si?- É todos os dias darmos o nosso testemunho cristão em casa, no nosso local de trabalho. Mostrar o que Jesus faria no nosso lugar.