Vi, nestes últimos dias, não só uma, mas duas vezes, o filme «Dos Homens e dos Deuses». Fi-lo porque nele se narra de maneira tão desconcertante a história verí­dica do martí­rio de sete monges trapistas na argélia. Só vendo duas vezes consegui convencer-me que era mesmo verdade. E que, embora tendo podido, os monges não fugiram à morte mais que provável que se aproximava
Vi, nestes últimos dias, não só uma, mas duas vezes, o filme «Dos Homens e dos Deuses». Fi-lo porque nele se narra de maneira tão desconcertante a história verí­dica do martí­rio de sete monges trapistas na argélia. Só vendo duas vezes consegui convencer-me que era mesmo verdade. E que, embora tendo podido, os monges não fugiram à morte mais que provável que se aproximavaFiquei convencido que o fizeram conscientemente, por opção deliberada, fundada sobre princípios para muitos absurdos a que pode conduzir a decisão vocacional de aderir a Cristo do mesmo modo como Ele aderiu aos irmãos. Durante o discernimento sobre se ficar ou fugir ao perigo, dizia o padre Cristóvão (segundo o filme) para o confrade padre Cristián, prior do convento: Em pequeno, eu queria ser missionário. Naquela altura, morrer pela fé não me impedia de dormir. Mas morrer aqui, agora, será verdadeiramente útil? Estou confuso. Tenho a impressão de endoidecer! E, depois, pergunto a mim mesmo: É-se mártir para quê? Para Deus? Para ser herói? Para mostrar que somos melhores?. a resposta do prior do convento é elucidativa: Se a morte nos apanhar não é por nossa vontade, pois nos esforçaremos até ao fim por a evitar. É-se mártires por amor, por fidelidade. a nossa missão aqui é de sermos irmãos de todos. E, lembro-te, o amor tudo espera, tudo suporta. assim narra o filme. De facto, no seu testamento, o padre Cristián deixará escrito: Se me acontecesse um dia (e poderia até ser hoje mesmo) ser vítima do terrorismo, gostaria que a minha comunidade, a minha Igreja, a minha família, se lembrassem que a minha vida estava já dada a Deus e a este país. Henri Teissier, bispo de argel quando se deram estes factos, condena o facto de o regista dar a impressão de partir de uma perspectiva absolutamente errada, dando a entender que os monges estavam ali só à espera do martírio. Estavam sim, afirma o bispo, a viver a sua vocação de monges, não obstante o perigo, e a tornar-se um sinal e um testemunho de consolação para todos os seus vizinhos e, em geral, para todo o povo argelino. De facto, todos os vizinhos dos monges estavam ameaçados como eles e não podiam partir. Para os monges, permanecer ali era fidelidade missionária, fidelidade a uma vocação recebida, iluminada pela cruz de Cristo. O padre Cristóvão deixou escrito no seu diário: O que aconteceu a Cristo, aconteça também a nós! Tu nos dizes de ficarmos lá, como monges, até ao fim da história!. E acrescenta: Mártires por amor, pelo homem, por todos os homens, também pelos assassinos, pelos algozes. O facto é que o martírio de amor inclui o perdão. É este o dom perfeito que Deus faz sem reservas. Da mesma têmpera destes monges que foram raptados e deram a vida por amor ao povo a quem testemunharam o verdadeiro consolador, Jesus Cristo, era o beato José allamano que dizia: Deveríamos fazer o voto de amar a Missão mesmo a custo da própria vida. E muitos foram já os missionários e missionárias da Consolata que pagaram com a própria vida a ousadia de amar com a radicalidade de Cristo.